quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

PORNOGRAFIA GAY MASCULINA - UMA MATÉRIA DE SEXISMO

Discurso apresentado em "Discurso, igualdade e dano", na Universidade de Direito de Chicago, Março 1993

O gay mediano me confunde. Como um homem gay ele vive com o medo e a realidade do taco de baseball e do pé-de-cabra. Ele conhece ódio e o que significa ser vítima de violência. Então porque a resposta de homens gays à Butler, o mais recente, e bem sucedido, esforço da Suprema Corte do Canada dirigido aos danos da pornografia? No Canada, quando a decisão Butler foi lançada, homens gays expressaram revolta. Como um homem gay branco, essa reação me deixa confuso e, infelizmente, à procura desesperada de uma comunidade. Por eu considero pornografia gay masculina uma matéria de poder, uma fonte de inequalidade social -- incluindo a minha.
Alguns vêem pornografia gay masculina como uma parte integral para a formação da identidade gay masculina, como algo que desafia heterossexualidade como uma construção social compulsória. Para a minha mente, pornografia gay masculina não é nenhum dos dois. É discurso de ódio. É integral, de fato central, para a formação de uma identidade gay masculina misógina e heterossexuadamente definida. Pornografia gay masculina não desafia heterossexualidade e dominância masculina. Ela apoia isso. Quando eu a vejo, distribuida em massa por aqueles que professam apoio por uma agenda de direitos gays comprometida com igualdade, eu vejo o umbigo das políticas de identidade atuais -- uma identidade gay que rejeita compaixão, afeição, e cuidado entre dois homens, e que ao invés promove homofobia internalizada, ódio, e o dano à outros. Pornografia gay masculina apresenta hiper-masculinidade, o que significa ser um homem socialmente construido. Essas imagens garantem que dominância masculina branca será mantida e que aqueles que historicamente foram negados igualdade continuarão a ser vítimas de ódio e violência.

Deixe me enfatizar que estou falando sobre pornografia gay masculina, não pornografia lésbica. Enquanto tenho poucas dúvidas que muitos desses assuntos que levantei hoje igualmente se aplicam à pornografia lésbica, eu não pretendo tocar nisso hoje. Ao invés, falarei do que para mim é mais perto de casa.
No Canada, nós somos felizardos em ter uma Suprema Corte que, em 1992, quebrou precendente e no processo reafirmou compromisso com equalidade como um direito canadense central. O caso de R. v. Butler não representa a primeira vez que foi pedido a corte regular nos valores clamados e danos expressos da pornografia, mas é a primeira vez que a corte explicitamente passou leis contra materiais pornográficos porque sua distribuição e produção minam "respeito por todos os membros da sociedade, e não-violência e igualdade em suas relações entre si."
Em Butler, a corte reconheceu que pornografia iguala dano, argumentando que:

o perigo claro e inquestionável desse tipo de material é que reinforça algumas tendências não-saudáveis na sociedade canadense. O efeito deste tipo de material é reinforçar homem-mulher esteriótios no detrimento de ambos sexos. Tenta fazer degradação, humilhação, vitimização, e violência em relacionamentos humanos parecerem normais e aceitáveis. Uma sociedade que considera egualitarismo, não-violência, consensualismo, e mutualidade como básicos para qualquer reação humana, seja sexual ou outra, é claramente justificado em controlar qualquer meio de representação que viola estes princípios


Aplicando esta análise, a corte especificamente rejeitou casos de lei prévios em que foi tido que pornografia deveria ser regulada para que se mantenha padrões morais. Ao invés, reconheceu que nem todo discurso é igual e que algum discurso é, de fato, a própria fonte da inequalidade. A corte então forneceu um novo padrão judicial de avaliação de liberdade de discurso - um padrão que irá ajudar na luta em andamento por equalidade.
Canada é também o lar para Chris Berchell, uma escritora para o maior jornal lésbico e gay de Toronto, quem, após Butler, tinha o seguinte a dizer:

Organização pré-eminente canadense feminista de reforma de lei, a Legal Equality Action Fund (LEAF) parece determinada em cortar o direito recentemente enriquecido dos canadenses à liberdade de discurso antes que a maioria de nós tenha a chance de exercitá-lo... O fato que esperteza pública e expert acredita que pornografia causa danos é devido ao sucesso da campanha anti-pornografia das últimas décadas, carregada por uma dúbia aliança entre cristãos direitistas e tais feministas e anti-sexo crusaders como Andrea Dworkin e Catharine MacKinnon, que ajudaram a desenvolver a estratégia de LEAF no caso Butler. Milhares de dólares são enviados para grupos de mulheres que ativamente espalham esta informação errada... É um comentário triste sobre nosso tempo que uma pane moral sobre imaginário sexual é liderado por feministas; que suas estratégias são canalizadas em um backlash anti-sexo que atinge queers primeiro e mais forte!

Chris Berchell acredita que pornografia gay masculina não deveria ser "censurada". Seus argumentos são baseados na suposição que pornografia gay masculina não causa dano -- isto é, que ela não resulta em mudanças comportamentais e de atitude que adicionam à real dano físico e que mina equalidade social. Para minha mente, está análise é ambas politicamente ingênua e socialmente regressiva.
Para todo o esforço gasto em defender pornografia gay masculina, é em dizer que existe pouca descrição ou documentação do que pornografia gay é -- isto é, como ela se parece, o que ela faz, e o que ela diz. Se pornografia gay masculina fosse libertária, então uma analise de como é produzida, por quem, e uma descrição de quem e o que ela representa como fonte da libertação se provariam utéis. Infelizmente, advogados de pornografia gay masculina falharam em providenciar até informação básica sobre o que tão fortemente defendem. Focando mais em seu percebido efeito positivo, eles prentendem evitar qualquer análise realística de onde tal efeito surge. Isto, em retorno, tendeu a legitimizar esses argumentos que, tendo ignorado a realidade do que é promovido, resultou em ignorar seu dano.
Pouca pesquisa foi feita na area de pornografia gay masculina, mas parece ser uma indústria enormemente lucrativa, com a maioria de seus lucros indo diretamente para algumas das pessoas que produzem pornografia hetero. (Quanto para um distinto discurso gay, por nós e para nós!) Em 1985 somente haviam dez ou mais companhias produzindo aproximadamente cem fimes pornográficos por ano, cada um vendendo por aproximadamente quarenta dolares. Ninguém sabe ao certo quantos desses filmes são vendidos a cada ano, mas em 1895 apenas, William Higgins, o auto-intitulado "rei da indústria porno gay", lucrou mais de $2 milhões. Neste mesmo ano, revistas pornograficas gays, que vendem por sete para 15 dolares cada, tiveram uma distribuição de mais de 600.000 revistas por mês. Isto é mais de 7 milhões de revistas em um ano.

Pornografia gay masculina lança títulos como Nazi Torment, Slant Eyed Savages, Teen Bootlicker, Leather Rape Gang, Big Black Cocks, Stud Daddy, Oriental Guys, Inches, e Slaves of the S.S. Uma vez dentro, você recebe aberturas com nomes tipo "Be My Sushi Tonight," "Caught Sniffing First Playmate's Dad's Uniform," "More Prison Violations: Spick Muscle Enslaves Anglo Cellie," "I was a Substitute Vagina," e "I Slapped Him Until He Came."
O que um vê em pornografia gay masculina é quase uma glorificação pervasiva do icone masculino/homem idealizado. Policiais, caminhoneiros, cowboys, bicicletistas, e nazistas são erotizados. Esteriótipos raciais são sexualizados e perpetuados. Músculo, "boa pinta", e juventude são glorificadas. Ostentamente hetero ou ao menos "hetero-atuando" estupro de homens e/ou humilhação de descritivamente (frequentemente esteriotipados) homens gays. Sadismo, bondage, esportes aquáticos, fisting, lamber botas, piercing, estapear, chicotear, incesto, branding(*marcação*), queimando com cigarros, tortura de genitália e mamilos com cera quente, clips, e o tipo, estupro, e estupro presidiário são apresentados como eróticos, estimulantes, e prazerosos. Na maior parte destes materiais, é o branco, fisicamente mais poderoso, mais dominante macho quem é romantizado e oferecido um status de exemplar. Nestes cenários em que parceiros sexuais "trocam vez" sendo "topo", as caracteristicas de dominância e não-mutualidade permanecem centrais ao ato sexual. O resultado é hieráquico e raramente compassivo ou sexualmente mutuo.
Isto é pornografia gay masculina. Isto é o que advogados pró-porno estao defendendo. Isto é a sua política de identidade. Enquanto conteúdo e apresentação podem variar em graus e explicitação de um meio para outro, o que um nota acima é uma visão geral do que pornografia gay masculina é. Se nos levamos a sério, e se levamos a sério a questão de políticas de identidade, então devemos a nós mesmos examinar do que essa política consiste.

A política de identidade que um pode filtrar de pornografia gay masculina é uma de degradação, exploração, assertividade associada à agressão, força igualada à violência, poder fisico e o direito do supro-poder, intimidação, controle de outros, falta de mutualidade, e desrespeito. Se você defende pornografia masculina gay, você também defende estas qualidades como centrais à identidade gay masculina. Você defende comportamento agressivo, não-consensual como normal, até libertador e promovido como tal.
A questão a ser posta então é se a politica de homem gay que ela passa pode resultar em minha eventual libertação. Eu não acredito em tal. Ao invés, as políticas de identidade irão resultar em dano considerável -- precisamente os tipos de danos dirigidos em Butler, que foram rapidamente rejeitados como não-existentes na pornografia gay e comunidade gay em geral.
Dada a descrição acima, não é talvez uma surpresa que pornografia gay frequentemente coloca seus "modelos" em cenários que promovem violência, crueldade, degradação, desumanização, e exploração. Enquanto tidos como meramente representacionais, veja "ficcional", a "fantasia" oferecida em pornografia gay utiliza pessoas de verdade, um fator que a maioria dos advogados pró-porno ignoram. Os homens usados em pornografia gay masculina são frequentemente envolvidos precisamente porque estão psicologicamente e financeiramente no seu mais vulnerável. Eles são facilmente explorados por uma indústria dirigida por sua habilidade de manipular aqueles mais provavéis de não possuir escolhas reais na vida. De fato, as vidas e experiências deste homens gays jovens são bem removidas da "fantasia" que evocam.
É um reflexo perturbador do estado das relações de homens gays que é tão pouco conhecido, e no final feito para ajudar, os homens tidos como imagens de onde identidade gay masculina é derivada. Note, por exemplo, a descrição de um homem jovem (entrevistasdo em 1985) envolvido na produção de filmes e revistas pornograficas gays.
Jim Y. foi criado por pais alcoolicos, abusivos. Quando Jim contou ao seus pais que era gay, aos 13 anos, seu pai tentou o matar com uma larga faca de cozinha. Jim saiu de casa aos 17. Aos 19 conheceu Frank H, mais ou menos 10 anos mais velho, quem virou seu amante. Frank estava envolvido em um filme porno quando conheceu Jim, e convenceu Jim em aparecer nele. Jim interpretou um recem chegado a cidade grande que se envolve em S&M, incluindo lamber de botas, bondage, bater com cinto, fisting, e assassinato implicado. Este filme foi o primeiro filme a mostrar fisting e Jim diz que ele está convencido -que isso criou interesses gays em fisting como comportamento sexual. O filme também refletiu o relacionamento S&M que Jim e Frank iriam dividir na próxima década. Jim está vendo um psiquiatra a três anos agora. Ele tem tentado evitar sexo S&M, e acredita que seu comportamento sexual foi uma manera de buscar contato com seu pai abusivo. Ele também reconhece que muita "fantasia" sexual pode ser destrutiva; quando perguntado de onde vem, ele disse, "Bem, de alguma forma, de mim; dos meus filmes, isto é." Há um mês atrás Jim foi diagnosticado com AIDS, e agora teme ter perdido qualquer chance que poderia ter tido de reverter sua vida.




A realidade diária dos homens jovens usados em pornografia gay masculina deveria, no minimo, indicar que a indústria não ofereçe proteção às pessoas que ela usa para lucrar. Muitos desses homens, já suscetíveis aos efeitos de emocionais, físicos e sexuais abusos passados, são postos em perigo por um indústria que, até hoje, fez pouco se fez algo para promover práticas sexuais seguras e, como resultado, faz muito pouco para proteger as pessoas que deveriam apresentar práticas sexuais seguras e positivas. Em adição, a indústria está inerente à prostituição destes homens, resultando em risco crescente de exposição à AIDS e violência física e exploração comensurada com prostituição em geral.
De forma similar, não requer muita investigação para perceber que cenários de violência sexual e dor apresentados como prazerosos são de fato documentações de degradação real, que não são nem prazerosas nem ficticias. Enquanto é fácil articular uma teoria de libertação que fecha os olhos ou ignora a realidade do que é especialmente apresentado como "fantasia", o uso e abuso de homens jovens em cenários de degradação, desumanização, e violência não podem ser justificados, particularmente por aqueles que vêem sua apresentação como integral à realização sexual e política de todos os homens gays. Como LEAF tão certamente argumenta em Butler, se alguma coisa violenta a liberdade e integridade de uma pessoa que o abuso sexual e físico direto, é a venda em massa deste abuso como entretenimento sexual.

A comunidade gay masculina tem sido relutante em aceitar que homens gays de verdade machucam uns os outros, que isto pode ser encorajado por pornografia ou que há algo inerente nos valores expressados na pornografia gay masculina que mina igualdade. Se estas publicações gays masculinas fossem heterossexuais em natureza, no entanto, e apresentasse mulheres e homens ao invés de homens e homens, as cortes canadenses iriam aceitar que são substancialmente danosas às mulheres e sociedade, baseado em pesquisas que indicam que produção e distribuição de pornografia heterossexual aumenta os riscos de violência contra a mulher e que esteriótipos e hieraquias de gênero promovidas em pornografia minam igualdade. A última década de pesquisa adicionalmente indica que pornografia heterossexual causa danos ás mulheres por negativamente influenciar comportamento individual ou grupal e por ser usada como ferramenta para forçar pessoas à participarem em relacionamentos não-consensuais, não-igualitários.
Estes danos resultam de pornografia gay masculina também? Ou o "gay" em pornografia gay masculina faz a pornografia menos pornográfica? Isto é, há algo qualitativamente diferente sobre as fotos de homens violentando outros homens que faz pornografia gay masculina livre de dano, ou fora dos limites de Butler?
Embora pesquisa até então contou apenas com pornografia heterossexual, eu sugiro que este achados são igualmente aplicáveis à pornografia gay masculina -- isto é, que a apresentação de pessoas reais em cenários de violência e degradação (sem mencionar a exploração involvida na produção destas imagens) podem neste caso, também, levar a violência aumentada contra pessoas reais. Eu não argumento que o dano ou o nível disso são exatamente os mesmos, já que homens não estão socialmente na mesma posição que mulheres. Mas uma analogia pode ser tido-que em ambos os casos certas imagens causam comportamentos que danem pessoas reais.

Apoiadores de pornografia gay masculina irão responder que pornografia heterossexual é danosa porque mostra homens causando danos à mulheres--que é a diferença biológica que deixa mulheres não-seguras e não-iguais. Então, pornografia gay masculina elimina o risco de dano porque nenhum mulher figura sua apresentação. Qualquer análise que descansa em biologia, no entando, é enganosa, como essencialista. Assume que quando homens machucam e violentam outros homens não é danoso -- uma presunção que somente reinforça presunções dominantes sobre comportamento masculina aceitável e agressão masculina em geral. Mais importante, o perigo inerente em pornografia heterossexual não é sua apresentação do homem biológico violentando a mulher biológica. A legitimização do poder de aqueles que apresentam agressão e dominância reinforçam violência masculina e inegualdade sistemática para aqueles que se tornam suas vítimas.
A masculinidade apresentado em pornografia não é de fato biológica mas um traço social. Dois homens podem ser feitos não-iguais se um homem é visto como um homem de verdade e seu parceiro não. Pornografia gay masculina, como pornografia heterossexual, cria uma hieraquia de gênero em que masculinidade se iguala a poder. Ela promove dominância masculina, e isto, em retorno, resulta em dano considerável.
No seu estudo revelador de 1991 em violência doméstica masculina gay, Island e Letellier reportarem que há entre 350.00 a 600.00 vítimas de violência gay doméstica masculina nos estados unidos a cada ano, o terceiro maior problema de sáude afetando homens gays no país hoje. O que é mais interessante para uma análise de pornografia gay masculina são os achados do estudo sobre os tipos de homens que batem e como percebem a si mesmos e seus parceiros.

Homens gays que batem e abusam de seus parceiros tem idéias específicas sobre masculinidade e o que significa ser homem. Este é o resultado da quase completa falta de exemplos positivos gays, um ambiente homofóbico em que ser gay significa ser não-masculino, veja inferior, e a internalização de auto-ódio e rejeição societal. Estes homens compensam por seu senso de não-valia ao procurar sistemas de valores que esperam irão oferecer poder de controle, e mais aceitável socialmente. Os batedores masculinos gays no estudo interpretam assertividade como significar agressão (ignorando os direitos e sentimentos dos outros), pensem da força como licença para serem violentos, vêem poder como uma licença para aterrorizar, e vêem mutualidade como uma ameaça. Como Island e Letellier explicam, batedores gays masculinos "performam" o que percebem ser comportamento masculino apropriado, seguem uma receita para aquela masculinidade e quando batem em seus parceiros, desculpam seu comportamento em clamar que isto é apenas como homens agem.
Pornografia gay masculina promove "valores" como poder, brutalidade, e não-mutualidade, exatamente os mesmo tidos por batedores gays masculinos. Pornografia gay masculina então apoia e sexualiza uma visão de masculinidade que resulta diariamente em homens gays sendo abusados e assassinados por homens que os amam.
Enquanto nenhuma pesquisa foi feita para determinar se homens gays que abusam seus parceiros usam pornografia gay, não há evidência que não o fazem. Para muitos advogados pró-porno, pornografia gay masculina serve como um recurso de aprendizado, particularmente em uma sociedade que expressão gay masculina é oprimida. Para estas pessoas eu pergunto se é razoàvel em assumir que um recurso de aprendizado que promove masculinidade, levada a seu extremo, uma vez interpretada por homens que sentem que não se encaixam na norma desejada e sentem que devem, tem o potencial de liberar já sentimentos intensos de insegurança e resultam em alguns comportamentos particularmente destrutivos.

Na soma, pornografia gay masculina encoraja tudo o que é masculinidade (leia "homem" socialmente definido). Logo, em adição de encorajar agressão masculina resultando em dano físico, vai longe também em manter inegualdade sistemática ao promover ao invés de minar uma hierarquia de gênero em que "masculino" é top e "feminimo" (leia todas as mulheres e aqueles homens gays que caem ou escolhem não se conformar com a construção masculina e quem são então socialmente feminizados) é bottom. Como pornografia heterossexual, ela então glorifica aqueles que em nossa sociedade sempre tiveram o maior poder e quem se beneficiou de dominância masculina e inegualdade social: homens heteros de corpos definidos, brancos. O resultado para a sociedade é uma política sexual baseada na dicotomia homem/mulher, uma divisão entre o poder e os sem poder, top e bottom.
Ao referir a homens gays como feminizados e então "femininos", eu não estou sugerindo que homens gays e mulheres são igualmente oprimidos. Como Andrea Dworkin explica, "homens desvalorizados podem geralmente mudar de status, escapar, mulheres e garotas não podem." Nem estou sugerindo que todos homens gays são igualmente oprimidos. O que estou dizendo, no entanto, é que a qual extensão homens gays rejeitam comportamento masculino socialmente definidos (como devem se igualdade sistemática terá que ser obtida) e expressam sexualidade e políticas que tem o potencial de subveter supremacia masculina, seu comportamento é tido inaceitável e desvalorizado como tal. O homem gay que o faz é então, como John Stoltenberg explica, "estigmatizado porque ele é percebido no status degradado de feminino" e, como tal, assume uma posição inferior àqueles que, não feminizados, arrancam os benefícios da polaridade homem/mulher. Ele é, em essência, penalizado por não "mudar de status" -- isto é, por não adotar aqueles valores e atitudes que mantém dominância masculina e a inegualdade que resulta disso.

Escritora lésbica e ativista Suzanne Pharr escreveu que quando homens gays quebram com os ranques de modelos masculinos atráves de aproximação mútua e mostram afeição por outros homens, eles são percebidos como não serem "homens de verdade" e são identificados com mulheres -- o "sexo mais fraco" que deve ser dominado, e que é objeto de ódio e abuso masculino. Misoginia, ela explica, é transferida para homens gays como vingança. É aumentada pelo medo mainstream que identidade gay sexual e comportamento irão desafiar dominância masculina e heterossexualidade compulsória. O homem gay, socialmente feminizado, internaliza sua misoginia e procura imitar aqueles comportamentos que irão, ele acredita, permitir que ele passe por o que um homem deve ser. Masculinidade, para aqueles que foram penalizados por não encontrarem seus critérios, promete privilégio e uma rede de proteção na qual encontrar apoio e aceitação.
Esta rede de proteção assumida é exatamente o que faz pornografia gay a ameaça homofóbica à igualdade que é. Ao invés de encorajar homens gays de subverter construções de gênero opressivas, ela diz a homens gays que todo relacionamento sexual deve ser hierárquico e que poder masculino está no topo da hierárquia. Ela promete homens gays o falso senso de seguridade que ele pode também obter mais poder se ele se tornar aquilo que epitomiza poder-masculinidade a seu extremo. Infelizmente o poder prometido é uma fachada e faz um grande serviço em manter dominância masculina-a própria fonte de tudo que é anti-gay, anti-mulher, anti-igualdade.
Autor gay Seymour Kleinberg argumenta que um não vence o inimigo de um apenas o imitando. Mímica apenas assegura invisibilidade. Por dissuadir a expressão pública de uma sexualidade que tem o poder de minar patriarcado, pornografia gay masculina serve como um pouco mais de outra fonte homofóbica para silenciar homens gays e reinforçar já profundo concreto sistema de discriminação sexual e inegualdade social.

Homens gays dizem com convicção que "silêncio iguala morte". Para muitos, isto representa uma chamada para ação. Para estes mesmos homens eu digo: silêncio iguala morte, e pornografia gay masculina é a sua focinheira. Agora me deixe ver ação de verdade.

Cristopher Kendall

sábado, 15 de dezembro de 2007

Teoria Queer e Violência Contra a Mulher

março 2004 - Por Sheila Jeffreys

Eu quero falar sobre como queer e teoria pós-moderna afetaram a habilidade de feministas e lésbicas de organizar-se contra, ou mesmo reconhecer violência contra mulheres. Na teoria queer e pos moderna, baseada no individualismo liberal, formas importantes de violência são renomeadas ´transgressão´, ´escolha´ ou ´agência´. Eu vou concentrar nas 3 formas de violencia aqui, a prostituição de homem abusando de mulheres, a violência de operações transexuais e a violência da industria da modificação corporal.
Meu ponto de partida é aquele velho mas pouco compreendido slogam feminista: ´Nosso corpo nós mesmas´. Em relação à violência, eu sugiro, isso tem dois importantes significados:


1/ A objetificação de mulheres no qual os corpos são tratados como objetos para outros usarem, à revelia de nossa vontade ou pessoalidade, como em estupro, abuso infantil, prostituição, são danosos para nós mesmas. O que é feito aos nossos corpos afeta a nós. Para sobreviver aos usos abusivos ou violentos de nossos corpos nós temos que aprender a dis-associar* para sobreviver. Em relação a prostituição o entendimento de ’nosso corpo, nós mesmas’ nos capacita reconhecer o mal da dis-associação que mulheres prostituídas tem de fazer uso de forma a sobreviver a violação de seus seres é constituiída pela violência sexual comercial.


2/ O slogam ’Nossos corpos, nós mesmas’ também significa que nossos corpos não são o problema. Esse foi o entendimento que deu base aos grupos nascentes de conscientização que capacitaram tantas mulheres a aceitar o formato de seus corpos e abrir mão de maquiagem e outros disfarces. Os problemas que mulheres e homens podem ter com as formas de seus corpos, configuração genital, são politicamente construídos em uma sociedade de supremacia masculina na qual mulheres, e alguns homens, são sexualmente e fisicamente violados por homens, na qual construções de gênero e de corpo perfeito são usadas para reinforçar controle social e a criação de uma dominação masculina e subordinação feminina. Descontentamento com nossos corpos que surge dessas condições políticas é um problema político, e a mutilação de corpos é uma ação que visa cortar fora os corpos para fazê-los caber dentro de um sistema político abusivo ao invés de procurar mudar o sistema para caber os corpos que de fato as pessoas têm.

Um valor básico feminista é a criação de uma sexualidade da igualdade na qual nós podemos permanecer em nossos corpos e celebrá-los como o são.

Em condições de opressão nenhuma dessas coisas é fácil. Nos anos 80 houve um backlash (reação) contra esses entendimentos fundamentais do feminismo. Feministas que trabalhavam em pornografia, em abuso sexual, em maquiagem, em sapatos de salto alto e outras belezas prejudiciais foram então tachados de: politicamente correto, puritanismo, anti-sexo.

As forças que alimentaram esse backlash:

1/ Liberalismo. O ponto de partida de feministas radicais que restringiram a compreensão de políticas para o mundo público, ganhou status nos 80 e 90. O ponto de vista de feministas liberais estadunidenses como Katie Roiphe e Naomi Wolf, e a jornalista britânica Natasha Walters, tão amada dos editores e da mídia, que mulheres são igualmente empoderadas o bastante para lidar com todos esses inconvenientes de suas vidas privadas, assédio sexual, estupros em namoros, espancamento, fazer todo trabalho de casa, de fato se torna exatamente como o liberalismo que dá suporte a políticas queer e pós-modernas.


Mulheres precisam ser ’power feminists’ [feministas empoderadas] diz Naomi Woolf. Nós estamos livres para usar maquiagem mas é supreendentemente certo de que são ainda mulheres que estão escolhendo essa forma de empoderamento. Aparentemente há um nível de campo lúdico mas homens não estão se aglomerando para retirar suas olheiras, usar batom, sapatos torturantes e saias curtas apertadas.

Práticas de violência são justificadas sob a rubrica do consenso. Sadomasoquismo, prostituição e cirurgia plástica não são compreendidas como práticas de opressão criadas através de relações de poder desiguais em supremacia masculina. Elas são portadas como invenções femininas para o prazer de mulheres ao invés de práticas tradicionais danosas.

A fetichização de consenso e escolha e seu set aplicado a estupro em namoros, é adotado de maneira ardente por pós-modernistas e teoristas queer que promovem sadomasoquismo e prostituição, transexualismo e body modification como o máximo em auto-realização e empoderamento.

2/ Pos-modernismo. Um set de idéias criado marjoritariamente por homens gays e em geral ininteligível. Homens intelectuais franceses vêm sendo adotados com aparente entusiasmo por muitas acadêmicas feministas e teóricos queer nos anos 80 e 90. Essas idéias foram sendo empregadas eu sugiro que seja porque algumas mulheres e homens gays queriam carreiras acadêmicas que são bastante difíceis de sustentar se você manter uma perspectiva feminista radical. Apenas as idéias de homens respeitados por outros homens farão você ir longe na acadêmia. Então feministas e homens gays vestiram as idéias do sadomasoquista Michel Foucault, por exemplo. Ele se tornou mais popular que Marx era nos 60 entre os trendies e progressistas. Em muitos departamentos como os de estudos culturais ele esteve e é compulsório.

O que essas idéias contribuiram para feminismo e o entendimento da violência? A idéia de que não há algo do tipo ’mulher’. Que isso é essencializante, e inaceitável é falar da experiência de mulheres ou opressão das mulheres porque mulheres são todos indivíduos completamente diferentes. Opressão adicional não existe porque poder apenas flui sem direção, apenas constantemente recriando a si mesmo nas interações de pessoas bem intencionadas, na comunicação. Não há algo como ’verdade’, o que convenientemente permite um relativismo moral no qual é bastante fora de moda protestar contra qualquer comportamento ou condição de opressão.


Essa é uma teoria espetacularmente inadequada para analisar violência e assim, graças a isso, não muitas feministas pós-modernas tentam fazê-lo. Elas estão mais interessadas em mídia, representações e fantasia, não em comportamento real ou circunstâncias materiais. Quando elas se aproximam de violência os resultados são bizarros. Sharon Marcus sobre estupro nos diz que estupro ocorre porque mulheres erraram no script. Se mulheres forem capazes de mudar o script então homens não as estuprariam. Isso desloca a culpa pelo estupro de volta às mulheres, algo que feministas tiveram sempre tentado mudar. Shannon Bell nos conta que não há ’significado inerente’ para prostituição. Se fosse o caso de que prostituição não possui significado em termos de relações de poder, então homens estariam se alinhando nas ruas para serem pegos em carros por mulheres que desejariam defender as coisas no seu âmago. É realmente difícil de sobrever assim as relações de poder na prostituição mas pós-modernistas podem fazê-lo.

Feministas pós-modernas nos dizem que o corpo é um texto. Não verdadeiramente real, mas um texto que pode ser rentavelmente reescrito. Então feministas pós-modernas são usadas pra justificar body modification. O ezine de body modification tem artigos justificatórios que citam teóricas ’feministas’ como Elizabeth Grosz e Judith Butler para legitimar as práticas anunciadas nos websites, tanto que página após página de propagandas de diferentes estúdios de piercing e cutting de todo o mundo ocidental com fotos de suas mercadorias. As fotos mostram partes na maior parte de corpos de mulheres lacerados, costas esfoladas abertas, músculos de carneiros com desenhos grandes e sangrentos neles cortados, estômagos simplesmente cortados sem qualquer desenho particular. As webpages muitas vezes portam bandeiras do arco-íris e o slogam ’assumida e orgulhosa’. Essas jovens lésbicas estão apenas reinscrevendo o que nós fomos orientadas.

3/ Teoria Queer. A teoria queer adapta s idéias dos pós-modernistas para os interesses de alguns homens gays. Elas são usadas para re-nomear formas variadas de violência como sadomasoquismo e transexualismo como ’transgressão’. Teoria queer é grande na importância da ’transgresssão’ das fronteiras corporais o que acaba por significar carregando formas de violência em cima disso. O entusiasmo com ’transgenerismo’ muitas vezes dito ser diferente de transexualismo também requer maior reformatação do corpo ofensivo com substâncias químicas se não cirurgia atual. Em teoria queer mulheres prostituídas são transformadas em uma minoria sexual, ou em um ’movimento de afirmação’ junto com outros praticantes ou vítimas de violência como sadomasoquistas, pedófilos, transexuais e vistos como rebeldes criando um novo futuro sexual. De fato, claro, mulheres prostituídas estão tendo que dis-associar para sobreviver, e não sendo liberadas sexualmente. Estão servindo à liberação sexual de seus colonizadores, os homens.

De fato as práticas de violência que são celebradas em teoria queer podem todas ser vistas como resultantes da opressão. Mas teoria queer, sendo baseada em individualismo liberal, não reconhece as políticas como sendo concernentes ao templo do privado. Sexo é privado e além das análises apesar de que as políticas queer demandam que homens gays sejam empoderados para clamar largas áreas do espaço público nas quais pratiquem seu sexo ’privado’. Essas áreas nas quais mulheres são feitas se sentirem desconfortáveis ou nas quais sejam feitas parecer muito perigosas para mulheres se aventurarem, por causa do delicioso senso de medo e apreensão que homens gays criam em campos de caçada por silenciar e rondar estão agora sendo oficialmente designadas como ’ambientes de sexo publico’ por exemplo nas políticas de HIV nas cidades escocesas. Logo homens gays apropriaram-se de largos pedaços de parques, fontes, ruas como sua possessão própria.

Políticas Queer nas formas de grupos como Sex Panic [Pânico Sexual] nos EUA e Outrage [Ultraje ou numa leitura dúbia, Raiva pra Fora] no Reino Unido, milita pelos direitos individuais de homens gays para injuriar outros em sadomasoquismo para seu entretenimento, a usar garotos em prostituição e pornografia, de adquirir espaço público para suas práticas. Um homem foi recentemente condenado por assassinato em Melbourne por enforcar outro homem na prática sadomasoquista de asfixiamento. Esse homem, proeminente em sadomasoquismo gay em Melbourne, um businessmen do sadomasoquismo associado com gerenciar clubes de SM para lucro, roubou os cartões de créditos do homem morto e seu carro e fugiu para o norte em Queensland. O bom é que ele pegou 5 anos de prisão. Minha perspectiva de todas essas práticas de violência sobre eles como sadomasoquismo, transexualismo e mutilação é que os perpretadores estão sempre errados. Não importa o quanto alguém peça para ser abusado é ainda assim errado complacer e é particularmente chocante fazer lucros em cima disso.

O que liberalismo e suas formas mais fashionáveis em pós-modernismo e teoria queer vem fazendo é desaparecer o opressor. Todas práticas de violência são vistas como ’escolhidas’ por agentes desejosos de, e visto também como politicamente progressivo e transgressivo.

Práticas Tradicionais Prejudiciais

Eu quero procurar com mais detalhismo de onde essas práticas de violência surgem e sugerir que elas de fato deveriam ser reconhecidas como práticas tradicionais prejudiciais. Em 1995 os Estados Unidos publicou indicadores de ’Praticas Tradicionais Prejudiciais e seus efeitos na saúde de mulheres e crianças’. As práticas descritas pelos indicadores sociais eram quase todas não-ocidentais. Elas incluíam mutilação genital feminina, casamento infantil, preferência do filho, alimentação forçada. A única prática listada que claramente dá cobertura também às culturas ocidentais é violência contra mulher e nessa prática está incluida prostituição.

Eu penso que é uma maneira bem útil de entender prostituição assim como as outras práticas de violência que eu venho discutindo aqui. Prostituição cabe muito bem dentro do critério de reconhecimento de uma prática tradicional prejudicial como definida pela UN.

1/ Prejudicial para a saúde de mulheres e crianças : Isso é certamente prejudicial para a saúde de mulheres e crianças pelo dano à auto-estima, tendências suicídas e auto-mutilação, doenças sexualmente transmissíveis e HIV, dano aos sistemas reprodutivos, gravidez indesejada, uso de drogas pra aguentar a violação e para prender mulheres e crianças à cafetões e bordéis.


2/ Emerge da subordinação de mulheres : prostituição claramente surge da subordinação das mulheres. É uma prática na qual as vítimas são mulheres e crianças expostas e os perpretadores são quase totalmente homens através da história e culturas. Essa é uma prática que explora o despoderamento de mulheres e crianças, economicamente, fisicamente e em relação com dominação masculina adulta e a submissão de mulheres e crianças.


3/ Suportada pelo peso da tradição : prostituição é frequentemente descrita pelos apologistas como ’a profissão mais antiga’ o que, longe de ser uma justificação, de fato poderia ser vista como uma particular acusação das sociedades ocidentais presentes que aclamam a si mesmas progressivas e comprometidas com igualdade embora mantenham séculos de velhas formas de escravidão em relação a mulheres e crianças.


4/ Toma uma aura de moralidade : uma vez que é fácil ver em relação à tais práticas de mutilação genital feminina desde envolvimento de mulheres na prostituição tem tradicionalmente levado a punição e isolamento social, é possível ver prostituição ganhando uma aura de moralidade agora com sua legalização em muitos países incluindo Victoria na Austrália onde eu vivo. Quando o relatório ILO (1) do último ano em prostituição chamado ’O Setor Sexual’ chamou pelo reconhecimento da utilidade da prostituição para as economias da Ásia Sudeste então o status de prostituição como uma indústria se não de mulheres prostituídas por si mesmas, está mudando rapidamente. Certamente prostituição se não sempre vista como moral é vista como inevitável na maior parte dos países do mundo e isso mostra a natureza profundamente enraizada de sua aceitação, sua implantação nas culturas de dominância masculina.


5/ Escolhida e infligida sobre mulheres por si mesmas: apesar disso não estar no critério oferecido pela UN de práticas tradicionais prejudiciais Eu penso que é um elemento importante da maioria deles, excluindo reconhecida violência masculina como em estupro de crianças e violência doméstica. Em muitas das práticas nas quais mulheres e crianças do sexo feminino são preparadas para o casamento e escravidão sexual, mutilação genital feminina, alimentação forçada etc. mulheres são as torturadoras de outras jovens mulheres como Mary Daly apontou em sua análise dos sado-rituais que concordam muito bem com o que a UN agora chama de práticas tradicionais prejudiciais. Homens são removidos pra longe da paisagem e sua responsabilidade difícil de ser reconhecida. Em algumas práticas, como na queima de viúvas em Rajasthan, mulheres são vistas como abraçando a morte voluntariamente a morte na pira funerária de seus maridos. As culturas qme que essas práticas são tocadas criam pressões sociais tão forçosas que recusa parece impossível e ’escolha’ é inimaginável. Em culturas ocidentais mulheres são vistas como livremente escolhendo prostituição enquanto os abusadores masculinos são invisíveis. Isso pode quase ser visto como se mulheres fossem para dentro dos quartos e fizessem a prostituição toda por si mesmas. Os homens precisam permanecer invisíveis como se o mal social de seu comportamento de prostituição para com as mulheres que eles tem relacionamentos fosse pra ser escondido. Em Victoria agora nós estamos ouvindo mais e mais histórias de mulheres cujo casamento de 25 anos ou mais foi destruído pelo comportamento de prostituição de seu marido, comportamento que ele vê como justificável num estado no qual prostituição é uma empresa estatalmente licenciada, regulada e taxada que exibe suas mercadorias no centro de exibição do estado. A dor das mulheres na descoberta, repentina, de fotos de jovens moças nuas da mesma idade de suas filhas integradas com os feriados familiares estala e vai pensando na agonia de serem culpadas pelos parentes por não dar aele o bastante, perdendo a lealdade das crianças que tomam partido do pai abusivo. Tudo isso é o mal de uma escala massiva que está institucionalizada pela legalização da prostituição.

6/ Justificada com as ideologias dos homens : Mary Daly também, fala de como os sado-rituais são justificados e celebrados nas ideologias masculinas e nas academias. Isso é onde entra as ideologias que eu venho observando aqui, as ideologias que consentem com ou legitimam práticas de violência, liberalismo, pós-modernismo e teoria queer.

O ocidente tem uma cultura em que práticas de violência e opressão são escondidas, responsabilizadas nas vítimas pelas idéias de ’escolha’ liberal ou celebradas. Eu gostaria de acrescentar lésbicas e gays às constituições opressivas que são as vítimas das práticas prejudiciais tradicionais. O status oprimido de lésbicas ou homens gays, combinadas com a experiência de violência sexual de homens na infância, está construindo eles como constituintes das indústrias de transexualismo e modificação corporal na qual histórias dolorosas são literalmente cortadas dentro dos corpos das vítimas para enlucramento. Transexualismo tem uma longa história. Muitas culturas tem escolhido construir uma dominação masculina cuidadosamente regulamentada e uma subordinação feminina por convocar em uma terceira categoria aquelas crianças masculinas que não cabem nelas ou são desejadas por outros homens para uso em prostituição. Isso não é uma história ilustre mas uma história de opressão, a qual queremos pôr um fim.

Automutilação (cutting), piercing e tatuagem, infelizmente, não são apenas moda. Para muitas vítimas de violência sexual e opressão de lésbicas e gays cutting se tornou uma obcessão, uma forma de carregar pra fora deles com a égide da aceptabilidade a auto-mutilação que eles poderiam de outra forma performar com culpa em seus próprios quartos. Penectomias, a perfuração de gargantas, facas perfuradas estreitamente pelos corpos, tatuagens faciais, tem repercurssões. Elas são potencialmente fatais, afetam prospectivas de emprego, podem levar a perda de poder de fala, infecções por HIV e muitos outros riscos. Cortar-se leva a gente pra um caminho longe do insight original feminista de Nossos Corpos Nós Mesmas, que eles são bons e legais e não merecem violência, constrição, ser escondidos com maquiagem ou véus, lacerados com cirurgia plástica ou operações transexuais. As práticas de violência que eu tenho olhado aqui, prostituição, transexualismo, cutting, sugerem que a brutalidade da opressão da mulheres, crianças, lésbicas e homens gays nas culturas ocidentais nas quais os oprimidos tem que dis-associar ou irrelevar pra sobreviver. Mas esses liberais que querem-nos acreditando que nós vivemos no melhor de todos mundos possíveis, abençoado com uma posição num campo de jogos de iguais oportunidades, devem culpar essas práticas nas vítimas através das idéias de escolha, ou distorcer seus significados ou celebrá-las através das ideologias queer ou pós-modernas. No Canadá hoje, como na Austrália práticas tradicionais prejudiciais de violência estão vivas como nunca e a gente precisa estar habilitada pra identificar elas claramente e em opôr-se, sempre, a quaisquer tentativas de justificá-las ou de construir indústrias rentáveis em cima delas. Estúdios de auto-mutilação, bordéis, deveriam ser como impensáveis assim como a idéia de construir indústrias em cima de mutilação genital feminina (apesar de que,claro, revistas de modificação corporal usarem fotos de garotas e mulheres mutiladas para a satisfação pessoal dos homens).


Notas
(1) Lim, Lin Lean (ed), The Sex Sector : the Economic and Social Bases of Prostitution in Southeast Asia, International Labour Organization, Geneva, 1998.
Janice G. Raymond,
Legitimating Prostitution as Sex Work : UN Labour Organization (ILO) Calls for Recognition of the Sex Industry Part One and Two, December 1998.


Referências
Mary Daly, Gyn/Ecolgy - The Metaethics of Radical Feminism Boston, Beacon Press, 1978, 1990.
Sheila Jeffreys, Unpacking queer Politics, Cambridge UK, Polity Press, 2003.
Sheila Jeffreys, The Lesbian Heresy, Melbourne, Spinifex Press, 1993.
Janice G. Raymond, The Transsexual Empire, New York, Teacher’s College Press, 1979, 1994
.


Apresentado em Vancouver Rape Relief fundraising dinner, 24 Setembro de 1999.
© Sheila Jeffreys


* Dis-associação ou Aprendendo a Dis-associar: Muitos sobreviventes de trauma são familiares com dissociação. É uma habilidade primária usada para encobrir sentimentos. Algumas pessoas com repetidas experiencias de eventos traumáticos particularmente na infância, aprender a dissociar bem cedo na vida. Dissociação significa escapismo mental e emocional quando fuga física não é possível Por exemplo, dissociação significa não permitir a situação dolorosa adentrar a consciência. Também pode significar bloquear seu impacto emocional por compartimentalizar o trauma. Isso permite aos sobreviventes desatachar-se do evento traumático, ajudando a desviar do seu impacto total. Se você dis-associar, você pode estar perdendo tempo, tempo que você não poderá contar ou tempo no qual você não estará certo de suas ações. Quando um evento é encobrido, ou quando esse evento é muito doloroso para tolerar, é natural e auto-protetivo aprender a dis-associar.[ Life After Trauma: A Workbook for Healing by Dena Rosenbloom, Mary Beth Williams

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

trans: flexibilizacao do feminismo

eu por algum tempo tive duvidas do porque o mov queer e o mov pós genero iriam escolher tal grupo de pessoas, que sao basicamente agentes de genero para estar do seu lado. Se eles estao tentando passar aquela coisa de "nada é real", ter alguem do seu lado falando que algo é real e esse algo nao esta nos seus corpos, nao poderia gerar algum conflito? Entao percebi como é na verdade perfeito. Que os beneficios de se ter pessoas trans aos seus lados sao muitos maiores que os danos que possam causar. Transsexualidade é uma otima arma para desestabilizar o terrível sistema binário de genero, que a critica feminista é tao dependente de. São perfeitos para flexibilizar ideias de genero e é isso que o mov queer sempre foi, uma grande busca pela flexibilizacao do posicionamento. Usam diversos grupos em pequenas frontes para cada questao que possa vir necessitar posicionamento seja rebutada. Bdsmers sao perfeitos para criticas à tortura, trans para genero como arma de ocupacao e exterminio. Bravo!


Como trans servem o anti feminismo


Trans, para evitar a critica feminista ao genero. se voltam à privatização vivencial em uma ode anti coletivista. Muitos são os chamados de exclusão de opinioes estrangeiras acompanhados de cantos como "voce nao é trans! nao pode me entender, logo debater o que sou". Além da ignorancia politica que tal posicao apresenta(afinal já q estamos ai que tal te lembrar q voces nao sao mulheres? nao podem falar sobre elas ou clamar algo delas como seu? que tal?), é um otima maneira de alimentar o backlash ao feminismo. A 3ra onda, os conservadores da familia, as prostitutas e diversos grupos se unieram em uma unica plataforma: feministas nao falam por todas as mulheres. (São um grupo de loucas, se me perguntarem) Trans alimenta essa posicao também ao tentar isolar um grupo que se opoem a eles, usam de misoginia enrustida e assédio partidario. Impressionante. Me digam, quais outras formas mais de combater união das mulheres e força grupal?

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Q SIGNIFICA O PÓS MODERNISMO SEXUAL

o pós-modernismo instaurado por foucault, derrida é um q rejeita a noção de verdade universal, se opoem a conceitos totalitários de verdade e enxergam opressão aonde nao há multiplicidade. Bom, o pós-modernismo é um ataque da academia na classe trabalhadora, é um mecanismo da elite academica de prevenir posicionamento e consciencia de classe entre os trabalhadores. Em uma sociedade patriarcal capitalista é óbvio q existem formas de opressão, mas o pos modernismo clama o relativismo, falam q nao é bem assim. q a realidade é multipla, que existe o acaso, que existem os pontos de vista, que a opressão é semiótica. Escrevem para confundir quem le em nao perceber sua opressão material, pq ela existe. Marx era materialista, dworkin era materialista, marcuse era. São pessoas que escreviam sobre formas de opressoes materiais e reais. O pos moderno pós-historia ignora esse conceito, falam q a historia é discurso e q as relacoes interpessoais são performance. enfim, as feministas radicais tinham um discurso bem material, denunciavam uma opressão existente e q pode ser pautada e abolida. Ai como falei dos grupos acimas, sentiam q suas praticas estavam em perigo pela denuncia feminista radical. Como poderiam continuar batendo uns nos outros com correntes e chicotes em roupas de couro? Ou continuar consumindo pornografia em q pessoas excluidas economicamente se prestavam a uma humilhacao q quem assiste nao se prestaria? Tcha-ram. Veio o pós-feminismo pós-genero pós-pornográfico queer liberal burgues. A rainha deles é a judith butler q pegou conceitos bem básicos do feminismo e deu uma luz pós-moderna e chamou de estudos do genero. O generismo acredita em respostas personalizadas ao problema do genero. Ao inves das mulheres sairem as ruas lutando para q prostituicao seja exterminada, pornografia abolida e patriarcado dizimado, elas podem agora no conforto de seus lares subverterem suas opressoes. Podem performar sua condição. A subversão é o conceito chave nas politicas pós-modernas sexuais.


Ao inves de buscar uma solução material para a questao patriarcal, agora vc pode de forma individual trabalhar a sua questão. As politicas de empoderamento empoderam o individuo. entao agora vc pode brincar com todos os signos opressivos, troca-los de ordem e dizer q inventou uma nova ordem social abstrata. Vc pode trocar o vocabulario q usa, imitar praticas opressivas mercantis para desestabiliza-las, voce pode fazer tudo. As lesbicas podem agora bater umas nas outras, ir em shows de strip-tease e beber cerveja. Os gays podem fazer o q sempre continuaram fazendo, expressando seus sintomas de auto odio por viver em uma sociedade homofobica e dizer q estao desestabilizando masculinidade e papeis de genero. É obvio q devemos destruir a noção dos generos. Mas nós precisamos de uma NOVA VERSÃO, nao uma SUBVERSÃO. SUB está dentro do paradigma referencial, nao traz nada novo. Nós precisamos criar um espaço novo livre de opressao e nao brincar com a opressao. Não trocar de lugar, mas destrui-lo. A critica das radicais aos trans por exemplo era q eles dependiam de um sistema de genero, pq sentiam q "eram" garotas e deveriam entao se portar de tal modo. Mas em uma sociedade realmente sem genero nao existiria "garota" e seus modos. Estranho os pós-generistas abracarem a causa trans falando q era destroi o genero qdo na verdade só reinforça, falando q existe. O motivo real para a adoção da otica pós-modernista na arena sexual promovida pelos queers, pró-porns etc é pq eles não podem se posicionar. Nao como as feministas radicais faziam. Elas se posicionavam em frente a um problema e demandavam uma resposta. Os queers-sexy-liberal-90s- nao podem, nao enquanto estao se batendo, se filmando apanhando, comprando mulheres e consumindo seus corpos. Entao com o medo de se verem obrigados a tomar uma posicao, falam q hei, nao existe posiçao, perai... tudo é multiplo demais para eu tomar uma posicao. se posicionar é reacionario! Entao inventam toda uma literatura confusa q se acaba em si mesmo e q nunca asserta se algo é bom ou ruim
Eles nao podem assertar q algo é bom ou ruim, pq estao fazendo coisas ruins. Estao batendo em mulheres, comprando e bebendo seus corpos. Nao podem ter o luxo de se posicionar. A conjunção queer nos anos 80 de todos os grupos q foram estigmatizados pelo discurso radical é uma forma de tentar estabelecer essa gama de multiplicidade q eles pensam irá destruir o discurso material. Mas eles nao são tao originais, nao existe multiplicidade. Eles copiam praticas q são bem básicas, nao tem nada de novo. A unica coisa nova q existia era a demanda feminista de um espaço onde nao há tirania. Sò ai. Entoa eles precisam criar esses pontos de confusao e distração pos modernos pq se formos considerar seus comportamentos em uma luz clara, são totalmente reacionarios, opressivos, cristão, patriarcais, racista, etc. Eles precisam de todo o liberalismo para existir, precisam falar q são anti censura para continuar comprando dor de mulheres, precisam falar q são anti-rotulo pq eles precisam impedir q uma identidade coletiva seja criada entre mulheres, homossexuais. Eles tem q impedir a unificação, tem q destruir a memoria, falar q são pós isso pós aquilo pq se as pessoas se juntarem e perceberem q hey, o q nós passamos é bem parecido, e o problema pode ser esse daqui, eles vão cair. Vão ser expostos como os agentes patriarcais q são. Portanto eles podem brincar o quanto podem com a opressão deles, performar, trocar de lugar, fazer videos faca voce mesmo de pornografia. Eles precisam subverter pq eles vivem em um lugar em q nao é possivel q isso nao exista. Eles nao imaginam q possa existir a nao-tirania. A anti-tirania feminista radical. Eles entao se acomodam, acham q é inerente, q o patriarcado é inerente, q o capitalismo é inerente pq se por um momento achassem q nao é, teriam q mudar. Se em algum momento ouvissem as radicais falando q nao aceitam a ordem atual das coisas, teriam q tentar e nao podem, pq sentem prazer aonde estão. pq gozam com as imagens de seu proprio exterminio, e no meio tempo, clamam falar por todos nós. Nao

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

RELACIONAMENTOS ABERTOS

Do pessoal ao político - revolução cotidiana e libertária
Por Clarisse Chiappini Castilhos[1]

Estas são livres reflexões sobre a dimensão política de vivências pessoais. Pretendo aqui contribuir para levar adiante aquela discussão tão essencial – e tão difícil: o aprofundamento do significado político / pessoal dos relacionamentos abertos[2]. Mais ainda, conversar sobre a vivência cotidiana dessa luta.
Essa proposta de discussão tem base em longas conversas com MarianaPessah, bem como outras amigas e companheiras.


um pouquinho de his-tória e hers-tória ...

Gostaria de me apresentar como uma pós-hippie, pós-68, ainda-feminista, ainda-esquerdista, marxista com pitadas de anarkismo, tentando encontrar um espaço nesse mundo estupidamente dominado pelo estúpido pensamento pós-moderno e neo-liberal. Por isso não abandono o debate tão vivo nos anos 70 sobre “monogamia” - um tema central nas lutas libertárias e intimamente relacionado à idéia de “relações abertas”.

O próprio marxismo nos mostra que a família monogâmica se formou para garantir a transmissão da herança gerada pela acumulação de excedente (Engels). Esse pensamento nos leva também a concluir que o núcleo familiar monogâmico patriarcal, definiu rigorosamente o papel exercido pelo homem e pela mulher, papéis esses que sempre colocaram o homem na esfera do poder.

No capitalismo, essa estrutura caiu como uma luva, favorecendo nitidamente a reprodução do capital através da ampliação da mais valia. De que forma? Dentre outras sutilezas, porque a ação das mulheres nesse micro sistema contribuiu, e contribui, para a redução do custo de reprodução da mão-de-obra e assim para o pagamento de menores salários à classe operária. A “fada do lar” zela pela alimentação, segurança, educação e bem-estar da família. Isso tudo sem cobrar nada. Se agregarmos o fato de que hoje a maioria das mulheres está engajada no mercado de trabalho, exercendo duplas ou triplas jornadas, e ainda sendo pior remunerada do que os homens, podemos formar um panorama mais completo do papel das mulheres no sistema. Essa estrutura de funcionamento tem uma base material: transmissão da herança e redução do custo de reprodução da força de trabalho.

No entanto, o que hoje mais assegura a manutenção da estrutura familiar monogâmica é sua função ideológica, o seu simbolismo de felicidade, de única forma possível de bem-estar. Essa ideologia – a da família monogâmica feliz - é tão poderosa quanto outras representações sociais como a autoridade patriarcal, como a proteção materna, e de seus macro-equivalentes como o Estado e as instituições. Essas representações são o instrumento mais eficaz para impedir o fim de um sistema econômico que somente se reproduz através da destruição material. É de ressaltar a importância que tem para o capitalismo, em sua fase atual, continuar com a submissão das mulheres, ainda que disfarçada atrás de formas mais sofisticadas.

“O aspecto mais importante da família na manutenção do domínio do capital sobre a sociedade é a perpetuação- e a internalização- do sistema de valores profundamente iníquo, que não permite contestar a autoridade do capital, que determina o que pode ser considerado um rumo aceitável de ação dos indivíduos que querem ser aceitos como normais, em vez de desqualificados por “comportamento não conformista” (Mészáros, 2002,p. 271)

E como se passou no socialismo real? A vanguarda da revolução russa, coerente com a crítica marxista da família, organizou comunas para substituir o núcleo familiar tradicional. Nessa fase temos a pioneira Alexandra Kolontai, com todos os limites próprios a uma pensadora imersa num processo revolucionário. Infelizmente, essa revolução foi logo retomada pelo poder patriarcal e por sua conseqüente rigidez moral. O moralismo capitalista foi transformado em moralismo socialista, cheio de regras e de “patrulhas ideológicas”. Tudo o que era estranho, como o amor entre pessoas do mesmo sexo, era considerado “desvio burguês”. Essa experiência durou pouco e, 90 anos depois, @s russ@s continuam se agregando em famílias monogâmicas, tradicionais e repressoras. Esse exemplo mostra a força da ideologia que mantém as bases de um sistema econômico decadente, mesmo que em forma de farsa, como nos antigos países socialistas. Com isso prolonga sua sobrevida e a nossa agonia.

Quem viveu a luta dos anos 60’/70’ tinha como meta a transformação plena, da economia, da cultura e dos valores. A revolução econômica ligada à revolução sexual. A crítica se estendia do chamado marxismo vulgar (economicismo) à psicologia freudiana (civilização é repressão). A criação de uma nova sociedade não passaria apenas pela coletivização dos meios de produção era necessário criar uma nova ideologia, um novo cotidiano.


a revolução cotidiana e a lesbianidade

Sabemos muito bem para onde o socialismo real / patriarcal, nos conduziu. Conhecemos perfeitamente os efeitos pessoais e sociais do dogmatismo moral da família tradicional. A história da família é a história de repressão da criatividade, da sexualidade e do prazer.

A família nuclear monogâmica servia - e ainda serve - para controlar a libido humana (em particular da mulher); para reprimir seu prazer - principal fonte de imaginação e de criatividade-; para fabricar uma infelicidade que gera silêncio e submissão. Uma submissão necessária à reprodução do capital e do mundo de dominância masculino. O riso, a alegria e a irreverência são obras do demônio e devem ser eliminadas e controladas pela culpa.
Como dizia Jorge, o frei cego do Nome da Rosa, a propósito do segundo livro da poética de Aristóteles[3]: “(...) O riso libera o aldeão do medo do diabo, porque na festa dos tolos também o diabo aparece pobre e tolo portanto controlável. Mas este livro (o segundo livro da Poética) poderia ensinar que libertar-se do medo do diabo é sabedoria. (...) a lei é imposta pelo medo, cujo verdadeiro nome é temor a Deus. E deste livro poderia partir a fagulha luciferina que atearia no mundo inteiro um novo incêndio (...). (Eco, 2003, p.455) A civilização judaico – cristã - muçulmana é a civilização da repressão e da culpa. Esta é a verdadeira história da humanidade.

a revolução dentro de casa

Até aqui apresentei livres reflexões que podem conter algumas imprecisões, mas são o pano de fundo do debate que proponho retomar em profundidade: as relações abertas na luta cotidiana; o desafio que enfrentamos no dia - dia desde uma perspectiva lésbica- feminista- autônoma e revolucionária.

Vamos partir de algumas constatações:
-Primeira: a pedra fundamental para a manutenção da família hetero monogâmica é a “fidelidade” da mulher.
-Segunda: nas “famílias” lésbicas, a prática não é muito diferente.

É da segunda que quero começar a pensar. No dia-a-dia os relacionamentos lésbicos não se diferenciam radicalmente dos relacionamentos heteros! Mesmo entre aquelas que consideram que ser lésbica é também, e antes de tudo, um ato político. De modo geral, dentro das relações amorosas lésbicas, a materialização dos desejos da outra, a possibilidade de viver novas relações sexo-afetivas - e mesmo apenas afetivas- fora dessa união, são vistas com muita desconfiança e com muito medo. Na maior parte das vezes resulta ou em finalização da união ou na repressão desses impulsos.

De fato, conviver com a perspectiva de mudar essa situação no cotidiano - não somente nas teorias e debates - é uma situação difícil e dolorosa. É como andar no fio da navalha, no limite entre a realização plena para uma e a frustração para a outra. No entanto essa pode ser uma construção solidária muito criativa, prazerosa e, sobretudo, o resgate da nossa alegria humana. Essa é, com certeza, uma das bases da revolução cotidiana e permanente.

A experiência pessoal de quem viveu maio de 68 e daquelas que continuaram resistindo, foi uma sucessão de tentativas de realizar o desejo de ser livre no corpo e nos pensamentos. Uma luta cotidiana para contrapor-se à acomodação e à sedução de inserção bem comportada proposta pelo capitalismo.

Mais difícil torna-se viver esse sonho no cotidiano de uma relação amorosa, dividindo o dia-a-dia com uma companheira, onde as duas se amem, se desejem e possam criar juntas.
Viver essa situação só pode acontecer dentro de uma base de muita sinceridade que contém a renovação compartilhada dessa revolução cotidiana e permanente. Somente a partir de conversas constantes e solidárias foi possível progredir sobre esse tema, apesar de sua complexidade. Num contexto de liberdade torna-se possível a convivência com novos amores e permite as pessoas envolvidas nessa situação tomar uma via (ou uma transvia) mais verdadeira e mais prazerosa.

As dificuldades são grandes. Do lado de quem está consciente que a sua parceira está envolvida/encantada/apaixonada por outra mulher ocorrem muitas crises de insegurança (de inspiração hetero - patriarcal, é bem verdade, mas nem por isso menos dolorosas). Uma vez que se consegue conviver com esses sentimentos, a superação da sensação de posse (que também não é nada simples) leva a uma libertação dos próprios sentimentos.

O essencial para conviver com essa nova situação é falar tudo dentro do relacionamento. Aquele papo de “só contar quando for algo mais sério” não funciona. É um embuste. Em primeiro lugar, porque está abalando a capacidade de percepção e de conhecimento de uma pela outra:
uma -eu sinto que ela está com outra relação, ou a fim de outra mulher, mas é paranóia... Se eu falar, ela vai se sentir agredida.
outra – Tem sentido falar se talvez termine amanhã?

É possível antecipar ou afirmar os rumos de uma relação aberta ou fechada? Penso que o primeiro passo é que todas as mulheres envolvidas têm que conhecer a verdade. Tudo precisa ficar explicito, mesmo que seja “eu não sei o que vai acontecer a partir de agora...”.

Compreendendo e vivendo esse processo, junto com uma companheira engajada nessa mesma busca, pode-se sentir um profundo sentimento de libertação. Numa situação como essa o ciúme e a posse perdem o sentido (mesmo que sigam existindo). Permanece o medo de “perder” que também é uma possibilidade numa relação monogâmica ou fechada. A possibilidade de esconder os sentimentos que possa (eu também) ter por uma terceira pessoa, também perde o sentido.

Reitero que é necessário muito cuidado com a(s) pessoa(s) amada(s). Vale a pena ser exposta a situações diárias e freqüentes de divisão de privacidade? É essencial preservar a intimidade e a especificidade das relações. Penso que esse convívio constante expõe a pessoa que está tendo outras relações a um stress de tentar “ajustar” as coisas, e as outras duas a muitas oscilações por imaginar coisas que não são ditas, sentimentos que estão sendo reprimidos. Em suma, penso que viver relações paralelas não pode cortar o fluxo de energia entre as pessoas que dela participam.

Como venho defendendo desde o início, a forma de trilhar o caminho do desafio é muita subjetiva. Mas, penso que cada uma deveria encontrar a forma de inserir suas próprias particularidades e individualidades nesse processo. Uma das minhas, é manter minha paz que também é um elemento de criação.


Até onde levaram nossos diálogos...

A prática, desta vez, me levou a acreditar que não tem o menor sentido perder sentimentos tão profundos e tão criativos - e raros - que podem unir duas mulheres, nem esse desejo que sentimos quando estamos bem. Também não tem o menor sentido que cada uma impeça a realização dos mais diversos impulsos criativos da outra. São relações diferentes, com pessoas diferentes. É como se retirássemos um véu que nos separa de nossa essência e que finalmente passássemos a nos ver face a face. Com todas nossas dificuldades e desejos. Enfim mais humanas, mais revolucionárias, com mais força para transformar esse mundo patriarcal, classista e racista. Isso me enche de amor por minha companheira e me dá vontade de ser inteira e plena. Afinal, como dizem @s existencialistas, viver é carência de ser.

Se a revolução social parece uma meta tão distante, ela pode ocorrer dentro de casa, desde que sua dimensão social não se extravie. Na realidade é somente na dialética individual / social que pode se construir um processo revolucionário que seja permanente e representativo dos conflitos que fundamentam todos os movimentos sociais. É a revolução do prazer, da criação e da mais profunda sinceridade.

Com tudo isso, quero deixar expresso que não pretendo escrever nenhum manual sobre relações abertas. Essa é uma experiência subjetiva (mesmo que política) que não tem regras, assim como a sociedade que nós queremos criar e viver desde agora. É parte de nossa revolução cotidiana e libertária.



Referências:

Engels, F. (s.d.) El origen de la família, la propiedad privada y el Estado. Ed. Progresso, Moscú.
Mészáros, I. (2002) Para além do capital. Ed. Boitempo/ Ed. UNICAMP, São Paulo.
Eco, U. (2003) O Nome da Rosa. Ed. O Globo, Rio de Janeiro/ Folha de São Paulo, São Paulo.
Da visibilidade à Luta LésbiKa ou a metáfora da “tortilla[8]

por m a r i a n a p e s s a h
[9]

Eu dividi este trabalho em duas partes. A primeira é este texto. A segunda é o fotoblog – ou galeria de fotos on line - chamado Luta LésbiKa. O objetivo desse fotoblog é, embora de forma subjetiva, mostrar- visibilizar nossa Luta LésbiKa.

http://www.flickr.com/photos/83523012@N00


Com a chegada do mês de agosto parei para pensar sobre a questão da visibilidade lésbica. Como se sabe, no Brasil o dia 29 de agosto é o Dia Nacional e, ainda que pareça contraditório, essa história de visibilidade acaba me parecendo um pouco abstrata. O que afinal se quer mostrar?
Penso que a visibilidade tem que ser uma ferramenta para a luta, não um fim em si mesmo. O que me parece é que esta data visibiliza as diferentes posturas que existem dentro do movimento lésbico - algumas mais centradas na causa única, outras interagindo com outros movimentos sociais.


Vamos falar de v i s i b i l i d a d e


Se falamos estritamente de visibilizar, ou seja, de VER - mostrar no cotidiano, se percebe uma mudança importante. Pela rua podemos identificar lésbicas entre tantas heterossexuais. Inclusive me parece muito sensual quando vejo mulheres trocando carinhos no parque.
Também me alegra quando vejo famílias que já não se horrorizam, nem se incomodam por ter uma filha, irmã, neta ou avó lésbica.
É verdade, nas novas gerações já se vê mudanças. Recordo que nos primeiros anos de minha juventude nem sequer sabia se lésbica se escrevia com “b” ou “v”, e não seria justamente para minha mãe – que possuía uma excelente redação – a quem eu perguntaria
[10]. As gerações atuais, sobretudo a classe média, da maioria dos países ocidentais, já estabeleceram um diálogo mais aberto com suas mães e passam por muito menos traumas.


Apesar disso me pergunto: v i s i b i l i z a r é s u f i c i e n t e ? Este é o ponto onde almejamos chegar, ou aspiramos algo mais?

Se esta idéia é um pouco abstrata não corremos o risco de ficarmos sozinhas? Somente nós lésbicas devemos nos visibilizar?
Durante esses dias o correio fica abarrotado de mails anunciando eventos que se sucedem durante o mês de agosto. Entre os muitos que recebi, um em especial me chamou a atenção. Uma mulher heterossexual deixava bem explícito “recebi e estou enviando” leia-se nas entrelinhas eu não sou lésbica. A mim nunca me ocorreria, frente à legalização - despenalização do aborto explicitar se eu abortei ou não. Isso, simplesmente faz parte de minha luta e a ninguém importa o que se passa especificamente com meu corpo. Esse dado é um divisor de águas: nós e elas.
Esse fato me faz lembrar da pouca consciência social que existe. É suficiente ver mulheres abraçadas nas ruas, agitando bandeiras coloridas quando as próprias mulheres do movimento feminista ainda devem explicar que não são lésbicas? Até que ponto avançamos?


Até onde queremos chegar?

Aqui aparece uma das grandes divisões do movimento. Há aquelas que lutam simplesmente pela visibilidade, ou seja, por ser vista, por mostrar sua existência, o que não me parece um fato menor, mas simplesmente incompleto por falta de uma proposta mais radical e profunda.
O que entendo que deveria ser movimento social está sendo reduzido a um só movimento de bandeira. Movimento de uma causa única. Seguindo o exemplo da alopatia, onde se recorta o corpo em pedaços e cada especialista se ocupa de curar sua parte. A mesma coisa sucede em nosso corpo social. Cada grupo agita sua própria bandeira sem entrelaçar-se com outras. Esse isolamento retira a abrangência social do movimento, torna-o mais digerível aos olhos do sistema, deixando essa luta sem possibilidades revolucionárias e transformadoras.

Muitas lésbicas se definem a si próprias como gays, homossexuais femininas
[11], entendidas, e inclusive lésbicas, mas o fazem unicamente como referência a uma orientação sexual diferente da norma. Como diz a socióloga e aKtivista francesa Jules Falquet em seu recente trabalho[12]. : “…essa perspectiva não é suficiente se não estiver acompanhada por uma reflexão materialista[13]. Podemos ver, analisando o esforço feminista internacional autônomo de maior alcance que existe hoje[14]: a Marcha Mundial das Mulheres, estudada pela socióloga francesa Elsa Galerand (2006), que tem entre suas reivindicações o respeito à “preferência sexual". Galerand demonstra que esta demanda reflete uma verdadeira desmaterialização de nossas lutas, porque reduz a lesbianidade ao nível de uma simples “preferência”, o que acaba por invisibilizar o fato de que a sexualidade constitui um elemento central das relações sociais de sexo — neste caso, da dominação dos varões e da heterossexualidade”


A metáfora da t o r t i l l a

Na América Latina e no Caribe um dos nomes pejorativos que a sociedade homo - lesbofóbica inventou para chamar as lésbicas é “tortillera”. Uma de nossas estratégias é justamente retomar, resignificar cada nome, cada insulto com que nos “presenteiam” e dessa maneira deixarmos o opressor sem respostas.

Há dois anos atrás, na abertura do VI Encontro Lésbico Feminista de AMLAC, no México, durante o ato de abertura que se realizou em um teatro, a atriz e pensadora Jesusa Rodríguez tinha uma “tortilla” na mão e – com muito humor - nos perguntava às lesbianas aí presentes se sabíamos qual a origem desse nome. Nunca me havia posto a pensar nisso e a pergunta continuou dando voltas na minha cabeça.

Gostaria de aproveitar essa data para re-pensar a metáfora da “tortilla”. Como revolucionária e “tortillera” quero dar a volta na realidade, que o que está embaixo, passe para cima! Mas, pensando a partir de outra lógica, não vejo necessidade de que o que esteja encima deva descer.
Vendo desde outro ângulo, não somente como orientação ou preferência sexual, a lesbianidade é uma sexualidade que não pertence à norma, isso quer dizer que está fora do sistema heteronormativo. A partir dessa visão, é mais fácil desestabilizar o sistema. Porque querer integrar-se? Ao contrário, como propõe a feminista materialista Monique Witting, temos a frigideira preparada e a tampa da panela – como utilizava minha avó – para dar a volta na “tortilla”.

“A categoria sexo é uma categoria política que fundamenta a sociedade enquanto heterossexual. Dessa forma, não é uma questão de “ser” mas de relações (porque as “mulheres” e os “homens” são o resultado de relações). A categoria de sexo é a categoria que estabelece como “natural” a relação que está na base da sociedade (heterossexual) e através da qual, a metade da população – as mulheres – são “heterossexualizadas” (a fabricação de mulheres é semelhante à fabricação de eunucos, à criação de escravas - os e de animais) e submetidas a uma economia heterossexual. Isso porque a categoria de sexo é o produto da sociedade heterossexual que impõe às mulheres a obrigação absoluta da reprodução da “espécie”, ou seja, da reprodução da sociedade heterossexual.”
A obrigação de reprodução da “espécie” que é atribuída às mulheres é o sistema de exploração sobre o qual se funda a economia heterossexual”
[15].


Aqui M. W. começa a descascar as batatas para fazer a “tortilla” - explicando as categorias sociais de homens e mulheres - para logo chegar a sua frase muito conhecida que as lésbicas não são - somos mulheres. Por que? Desde o momento que saímos da lógica heterosexualizante, podemos pensar em outra sociedade, ver a partir do lado de fora e construir outros valores, economias, categorias sociais, etc. Ou seja, que a “tortilla” é para toda a humanidade, não somente para as lésbicas.
Por isso é tão importante entender nossa luta, nossa lesbianidade como uma ferramenta política e revolucionária, não somente uma luta pela visibilidade.



Visibilizar a l u t a


Pelo exposto aqui, não quero um dia de visibilidade para somente mostrar lésbicas abraçando-se e beijando-se e, muito menos, mulheres nuas[16].
Quero neste momento – espaço dar visibilidade a nossas Lutas, desejos, objetivos, vidas, paraísos, pensamentos. O que quero é dar visibilidade a nossa Luta Lésbika.

Por isso dividi meu trabalho em duas partes. A primeira é esse texto que acabaram de ler, e a segunda é a galeria de fotos Luta LésbiKa.

Convido agora a clicar em:
http://www.flickr.com/photos/83523012@N00/
Porque a Luta continua.



[8] Tortilla é uma comida que se prepara com ovos, uma das mais conhecidas se faz com batatas. Para que ela esteja bem cozida, deve ser feita primeiro de um lado e logo depois tem que ser virada.
Em AMLAC, as sapatas somos chamadas de tortilla - tortillera.

[9] mariana pessah é artista lésbica e ativista feminista, também artista feminista e ativista lésbica latino-americana e caribenha. Pertence ao espaço Mulheres Rebeldes e EM REBELDIA http://enrebeldia.blogspot.com/ radicaldesdelaraiz@yahoo.com.br / marianapessah@yahoo.com.br

[10] Essa confusão se explica na língua Argentina onde se confunde mais facilmente a pronúncia de b e v. (nota da tradutora).
[11] Tanto as palavras gay, como homossexual possuem no imaginário coletivo uma idéia de homem que gosta de homens. Nunca aparecem as mulheres por isso é tão importante apropriar-se da palavra lésbica que tem uma his - herstoria mujeril. Origina-se de Lesbos, uma ilha da Grécia antiga, onde 400 anos AC, existiu Safo, a primeira referência his - herstórica de uma mulher que tenha amado a outras mulheres. Com mais razão, se falamos de visibilidade, é necessário utilizar palavras que nos visibilizem.

[12] “La pareja, este doloroso problema” exposição apresentada no Quinto Colóquio Internacional de Estudos Lésbicos “Tudo sobre o amor”, organizado por Bagdam Espace Lesbien em Toulouse (França).

[13] Por materialista, entendo uma análise que parte da situação material, econômica, histórica, concreta e cotidiana das pessoas, ao invés de enfocar a reflexão sobre aspectos ideológicos, culturais, psicológicos ou emocionais. Também mais específicamente reivindico (entre muitos outros) os aportes téoricos do feminismo materialista “francês”, que desenvolveu o conceito chave da “apropriação individual e coletiva das mulheres” e a idéia que as mulheres somos una classe social definida por tal mecanismo de apropriação (e de nenhuma maneira um grupo biológico), em especial Christine Delphy, Nicole Claude Mathieu, Colette Guillaumin, Paola Tabet e Monique Wittig. Para maiores detalhes, ver Curiel e Falquet, 2005.

[14] Falo aqui de projetos políticos e organizativos nascidos do movimento feminista e não daqueles criados pelas instituições internacionais a partir das grandes conferências e demais atividades recuperadoras organizadas pela ONU. Sem dúvida cabe a pergunta de quão autônomos são os inumeráveis grupos que, apesar de não nascer diretamente da ONU, recebem financiamentos estatais, de igrejas ou de agências de cooperação. Agradeço a Yan María Castro por seu comentário a respeito, no marco da discussão eletrônica deste artigo.

[15] Monique Witting: Le pensée straight Éditions Balland, 2001, pag. 46.

[16] En una actitud que podría reforzar la visión masculinista que tiene el patriarcado de nuestros cuerpos, al igual que la publicidad, que también utiliza nuestras “partes” para vender sus productos. Digo solamente “partes”, porque rara vez he visto una publicidad cuyo valor sea la inteligencia de una mujer, con lo cual, faltando la cabeza, quedan sus “partes”.