terça-feira, 8 de maio de 2007

Genitalização e Economia da Libido no Capital Monogâmico Patriarcal


A organização da sexualidade reflete as características básicas do pincípio de desempenho e sua organização social. Freud destaca o aspecto da centralização. É especialmente eficaz na ´unificação´ dos vários objetos dos instintos parciais num único objeto libidinal do sexo oposto e no estabelecimento da supremacia genital. Em ambos os casos, o processo unificador é repressivo - quer dizer, os instintos parciais não evoluem livremente para um estágio ´superior´ de gratificação que preserve seus objetivos, mas são isolados e reduzidos a funções subalternas. Esse processo realiza a dessexualização socialmente necessária do corpo: a libido passa a se concentrar numa única parte do corpo, deixando o resto livre para ser usado como instrumento de trabalho. A redução temporal da libido é suplementada, pois, pela sua redução espacial.

(...)

Por exemplo, as modificações e deflexões de energia instintiva necessárias à perpetuação da família patriarcal-monogâmica, ou a uma divisão hierárquica do trabalho, ou ao controle público da existência privada do individuo, são exemplos de mais-repressão concernente às instituições de um determinado tipo de realidade. Elas são somadas às restrições básicas [filogenéticas] dos instintos que marcam a evolução do homem do animal humano para o animal sapiens. O poder de restringir e orientar os impulsos instintivos, de transformar as necessidades biológicas em necessidades de desejos individuais, em vez de reduzir, aumentar a gratificação: a ´mediatização´ da natureza, a ruptura de sua compulsão, é a forma humana do princípio de prazer. Tais restrições dos instintos podem ter sido primeiro impostas pela carência e pela prolongada dependência do animal humano, mas tornaram-se depois um privilégio e uma distinção do homem, que o habilitaram a transformar a necessidade cega de satisfação de uma carência numa gratificação desejada.

(...)

Originalmente, o instinto do sexo não tem limitações extrínsecas, temporais e espaciais, ao seu sujeito e objeto: a sexualidade é, por natureza, polimorficamente perversa. A organização social do instinto sexual interdita como poerversões praticamente todas as manifestações que não servem ou preparam a função procriadora. Sem as mais severas restrições, neutralizariam a sublimação de que depende o desenvolvimento da cultura. Segundo Fenichel, "os esforços pré-genitais são objeto de sublimação" e a primazia genital é seu "pré requisito". A Freud deu o que pensar porque o tabu sobre as perversões é sustentado com uma tão extraordinária rigidez. E concluiu que ninguém pode esquecer que as perversões são não só e meramente detestáveis, mas também algo monstruoso e terrível - "como se exercessem uma influência sedutora; como se, no fundo, uma secreta inveja dos que as desfrutam tivesse que ser estrangulada". As perversões parecem fazer uma promesse de bonheur maior do que a da sexualidade "normal". Qual é a origem dessa promessa? Freud salientou o caráter "exclusivo" dos desvios da normalidade, sua rejeição do ato sexual de procriação. Assim as perversões expressam a rebelião contra a subjugação da sexualidade à ordem de procriação e contra as instituições que garantem essa ordem. A teoria psicanalítica vê nas práticas que excluem ou impedem a procriação uma oposição à continuidade da cadeia de reprodução e, por conseguinte, da dominação paterna - uma tentativa para impedir o "reaparecimento do pai". As perversões parecem rejeitar a escravização total do ego do prazer pelo ego da realidade. Proclamando a liberdade instintiva num mundo de repressão, caracterizam-se frequentemente por uma forte rejeição do sentimento de culpa que acompanha a repressão sexual.

(Herbert Marcuse, Eros e Civilização)

Lista dos direitos aos quais os casais gays não têm acesso:

1- Não podem casar;

2- Não têm reconhecido a união estável;

3- Não adotam sobrenome do parceiro;

4- Não podem somar renda para aprovar financiamentos;

5- Não somam renda para alugar imóvel;

6- Não inscrevem parceiros como dependentes de servidor público;

7- Não podem incluir parceiros como dependentes no plano de saúde;

8- Não participam de programas do Estado vinculado à família;

9- Não inscrevem parceiros como dependentes da previdência;

10- Não podem acompanhar o parceiro servidor público transferido;

11- Não têm a impenhorabilidade do imóvel em que o casal reside;

12- Não têm garantia de pensão alimentícia em caso de separação;

13- Não têm garantia à metade dos bens em caso de separação;

14- Não podem assumir a guarda do filho do cônjuge;

15- Não adotam filhos em conjunto;
16- Não podem adotar o filho do parceiro;

17- Não têm licença-maternidade para nascimento do filho da parceira;

18- Não têm licença maternidade/ paternidade se o parceiro adota filho;

19- Não recebem abono-família;

20- Não têm licença-luto, para faltar ao trabalho na morte do parceiro;

21- Não recebem auxílio-funeral;

22- Não podem ser inventariantes do parceiro falecido;

23- Não têm direito à herança;

24- Não têm garantida a permanência no lar quando o parceiro morre;

25- Não têm usufruto dos bens do parceiro;

26- Não podem alegar dano moral se o parceiro for vítima de um crime;

27- Não têm direito à visita íntima na prisão;

28- Não acompanham a parceira no parto;

29- Não podem autorizar cirurgia de risco;

30- Não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz;

31- Não podem declarar parceiro como dependente do Imposto de Renda (IR);

32- Não fazem declaração conjunta do IR;

33- Não abatem do IR gastos médicos e educacionais do parceiro;

34- Não podem deduzir no IR o imposto pago em nome do parceiro;

35- Não dividem no IR os rendimentos recebidos em comum pelos parceiros;

36- Não são reconhecidos como entidade familiar, mas sim como sócios;

37- Não têm suas ações legais julgadas pelas varas de família;


Eu Fay fui casada 5 anos, senti na pele os direitos que eu não tinha em relação a minha esposa e vice e versa, tive a sorte de ter uma família que nos via como um casal. Mas fora disso, na sociedade era complicado, para alugar imóvel, comprovação de renda, seguro de vida, plano de saúde, etc. Tínhamos uma vida estável, trabalhávamos juntas, fazíamos mercado pagávamos contas juntas. Enfim, mesmo assim, não nos viam como um casal, nos viam como duas garotas que dividem o ap e saiam juntas sempre (risos). Uma com um jeito moleque e a outra bem feminina.

Então me fala qual é a preocupação de alguém que não tem a necessidade no seu dia a dia em aprovar uma lei que o mesmo nunca viveu essa situação?

O que falta são pessoas como eu e você, mostrar a cara cada dia mais e sair de quatro paredes e provar que não somos e nunca fomos a minoria.

(...)

retirado de http://faybutch.blogspot.com


O sistema força os individuos na marra à heteronormatividade monogâmica reprodura, tudo construído pra se auto-corrigir e às suas peças. Como ser gay e querer se incluir, se o sistema intrinsicamente é homofóbico e contra tudo que um gay, como uma afronta à ordem que é, representa? O Sistema é diametralmente oposto ao que a condição gay diz respeito. O gay é a oposição, querer a assimilação é uma luta em vão.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

O Fracasso da Privacidade




Para a maioria doa americanos, o direito à privacidade é a pedra fundamental na grande estrutura constitucional, um direito que garante uma variedade de liberdades. Nó o invocamos romanticamente em nossa virtuosa chamada por liberdade de intrusão social ou legal ("O que eu faço no meu quarto é negócio meu"); liberdade de religião ("Minha religião - ou a falta dela - é negócio meu"); liberdade de associação ("Esse é um clube privado--nós podemos escolher quem entra"); e liberdade dentro de nossas famílias e outras relações pessoais ("Eu vou criar meus filhos do modo como desejar"). Nós o também invocamos de forma ignorante: não existe nenhum direito à privacidade na constituição. O conceito é relativamente novo junto com uma seleção de outras decisões da suprema corte, duas das quais mais recentes foram entregues em Junho. Em Troxel v. Granville, a corte decidiu que avós não tem respaldo legal de visitação a seus netos com a objeção de seus pais. Juíza Sandra Day O´Connor argumentou em uma opinião plural que "não haverá normalmente nenhuma razão para o estado se injetar no terreno privado da família para questionar a abilidade daquele pai para fazer as melhores decisões relacionadas à criação das crianças daqueles pais," Em United States v. Hubbell, a corte decidiu que consultor independente de Whitewater Kenneth W. Starr violou o seu acordo de imunidade com Webster L. Hubbell em enviar subpoenas tão agregórios que produziu mais de 13,000 páginas de arquivos financeiros. Starr então usou old tax returns para cobrar Hubbell com evasão de impostos, ainda que essa não foi a má conduta alegada do inquérito inicial. Ecoando uma anterior decisão de apelo que chamou as ações de Starr "a quintessêncional expedição pesqueira," a corte decidiu que se o governo não tinha "conhecimento anterior nem de suas existência ou localização" do abuso de papéis privados, usar subpoenas para procurar por evidências viola as proteções da quarta e quinta emenda contra "busca e coleta não-razoável" e auto-incriminamento. Ambas decisões parecem ser boas medidas. A decisão sobre os direitos de visitação do avós parece senso comum: na verdade, tem sido festeja por experts legais que querem limitar a intrusão biológica em famílias gays. (O mais controverso caso foi o de Sharon Bottoms, uma lésbica assumida que perdeu a custódia de seu filho para a sua mãe, que objecionou a homossexualidade de Bottom. Em uma ironia amarga, o segundo marido da mãe foi um molestador de crianças convicto: so much para os melhores interesses da criança.) O julgamento do caso Hubbell, no entanto, parece apenas simples justiça, ainda mais um bem merecidao chute ao Inquisitor Starr. Mas é o conceito legal da privacidade o melhor lugar para negociar esses assuntos, especialmente em caso de sexualidade e família? Especialmente homossexualidade. Conforme o mundo se torna cada vez mais complicado, aqui nós nos voltamos à "privacidade" como um modo de evitar uma discussão pública maior do que significa ser humano? A privacidade se tornou a solução-de-todos-os-tamanhos para todos os problemas sociais? Argumentar pela privacidade é sempre defensivo, nunca totalmente assertativo. Se nós verdadeiramente queremos defender nossas liberdades, nós precisamos de soluções que são mais efetivas---e mais radicais. Nós precisamos achar novos conceitos, e talvez mesmo nossa linguagem, para expressas e proteger as nossas necessidades e desejos mais básicos. Insistir em privacidade simplesmente nos remove do mundo público. Nós costumamos pensar da privacidade como um modo de escapar do intrusivo, injusto poder do estado ou sociedade: proteger as pessoas pequenas. Mas, frequentemente demais, privacidade tem protegido e dado força aos poderosos. O conceito legal e social da privacidade formou raízes após a queda do feudalismo, quando novos servos liberados finalmente obteram alguma medida de proteção da formalmente toda-poderosa monarquia. Eles podiam agora serem donos de propriedades e tinham melhores direitos para indepêndencia pessoal e social. Eles podiam ser privados---isto é, não uma parte do terreno público da monarquia. Sob este sistema, a família poderia agora virar uma importante unidade social. Mas em muitas maneiras, esta nova estrutura simplesmente replicou o antigo sistema de poder. Jurista britânico Sir Edward Coke notou em 1623 que "et domus sua cuique est tutissimum refugium"--"a casa de um homem [sic] é o seu castelo." No entando, este conceito de privacidade era um tanto estreito. Designava a casa, e por extensão a família, como uma entidade social privada. Mas dentro daquele terreno o homem, como o rei, tinha o poder. Esposas e crianças eram literalmente--legalmente--"owned"(dono) por seus maridos e pais. O "homem" na declaração de Coke não uma outra palavra para "pessoa". Com a subida da enterprise privada, idéias similares eram tidas como verdadeiras fora do lar: donos tinham mais direitos que trabalhadores. A idéia da propriedade privada também era nova, e altamente problemática. Uma sério de atos de anexão na Britânica nos séculos 16 e 17--que privatizaram florestas e pastos comunamente tidos--radicalmente alterou não só a cidadania, mas também o próprio senso da tradicional terra comunamente tida. Essa erradicação do "comum"--uma manifestação física de uma maior área de interesses e responsabilidades de uma comunidade--ainda vive conosco hoje. A idéia de que comunidades podem funcionar sob o modelo de cooperação ao invés de competição é estrangeira para muitos nos E.U. Essa maldição do comum. está conosco hoje em frases como "lugar comum" que são usadas para degradas, ao invés de valorizar objetos e ações. Enquanto privacidade oferecia alguma indepêndencia da autoridade real, ela geralmente ajudou e protegeu aqueles com poder. Nós vemos isso mesmo na era moderna. Quando a democraria substituiu os direitos divinos de reis, "privacidade" tomou novos significados, formas, e abusadores. Constantemente o estado tinha que intervir. Os interesses comerciais de um "homem", por exemplo, era de sua preocupação pessoal. No entando, conforme donos de negócios abusaram dessa privacidade, o governo era forçado a adotar regulamentações para proteger os trabalhadores (lembrem-se, a semana cinco-dias de trabalho é relativamente nova) e mesmo outros negócios. A privacidade do lar teve de ser modificada de modo similar. Apenas três décadas atrás, abuso físico de crianças e linchamento de parceiros eram ignorados e tolerados por ambos as autoridades legal e o público: eles eram vistos como ações "privadas" que ocorriam na santidade do lar. Em muitos estados, um homem não poderia ser culpado por estuprar sua mulher porque sexo dentro do casamento era legal--sendo consensual ou forçado. Aqui "privacidade" era uma cobertura para dominação e violência. Conforme a sociedade se tornou mais sensível a esses assuntos, cortes foram forçadas a balancear o conceito tradicional da privacidade com uma igualmente forte intolerância a violência contra indivíduos. Agora não é ok bater na sua esposa, embora você possa ainda espancar suas crianças, mas não mais com cintos ou fios. No entanto, o romance da privacidade como um anjo-da-guarda para liberdades pessoais ainda corre forte. Em nenhum lugar isto é mais evidente como nas decisões dos últimos 25 anos da suprema corte relacionadas a relações sociais e sexuais. Em 1964, a corte decidiu em Griswold v. Connecticut que casais casados poderia comprar e usar contraceptivos; o estado não poderia intervir na privacidade de um casamento. Em 1969 o mesmo argumento foi usado em Loving v. Virginia para reverter leis misógenas centenárias. Em 1972 Eisenstadt v Baird estendeu o direito a privacidade no casamento para todas as relações heterossexuais adultas: casais não-casados agora tinham o dinheiro de comprar e usar contraceptivos. E, de modo mais controverso, em 1973´em Roe v. Wade a suprema corte decretou que o direito de uma mulher a privacidade incluia o seu direito de ter um aborto. Cada uma dessas decisões expandiram o conceito de liberdade pessoal e ajudou criar uma sociedade que valoriza a integridade do indivíduo. Mas foi o conceito legal da privacidade o melhor caminho para esta destinação? Por cair na privacidade para assegurar direitos individuais, as cortes--ambas appellate e suprema--podem ter evitado assuntos que são mais difíceis e controversos. Ao invés de expandir o direito constitucional à privacidade, por exemplo, não teria sido melhor--mais honesto e mais direto--para a suprema corte para decidir que adultos têm o direito de fazer com os seus corpos o que escolherem? Para aprimorar o standard de liberdade corporal e sexual que era o direito básico de um ser humano. Tal decisão teria expandido liberdade pessoal, celebrado a dignidade do indivíduo, e ajudado a criar uma sociedade na qual todas as pessoas são criadas iguais e a busca pela felicidade é um pouco mais fácil. Mais importante, no entanto, é a dura realidade que o modelo da privacidade apronfudou as limitações--limitações que a longo prazo podem ser desastrosas. As liberdades garantidas em Roe v. Wade, por exemplo, tem sido questionada pelas duas últimas décadas, e muitos desses ataques tem sido direcionados na insegura definição de privacidade. Se Roe v. Wade aponta a fragilidade do modelo de privacidade, a decisão de Bowers v. Hardwick de 1984 atesta o seu fracasso. Em uma primeira olhada Bowers v. Hardwick parece um no-brainer, uma vitória certa. Michael Hardwick, um homem gay, foi preso e culpado em queixas de violar a lei de sodomia da Georgia por ter sexo oral com um outro homem em seu quarto com a porta fechada. Ativistas e advogados gays argumentaram que a prisão violava o direito de Hardwick à privacidade. No entanto a suprema corte decidiu que--apesar dos precendentes apresentados por Griswold, Loving, e Roe--não havia nenhum direito constitucional à privacidade quando se referia a sodomia consensual, por não haver nenhum relacionamento para a privacidade de escolha que foi estabelecidade para casamento e reprodução. Se estes casos tivessem sido argumentos, e vencidos, no direito à integridade corporal, a convicção de Michael Hardwick poderia ter sido revertida, junto com a lei de sodomia da Georgia. Neste domindo de manhã adjudicating pode parecer simplista. Casos indivuduais na suprema corte são decididos em argumentos colocados por advogados opositores e formados por ambos precedente legal e contexto histórico. Mas o que está claro é que argumentos de privacidade permanecem persistentes e relativamente não-questionados. Em Troxel v. Granville a corte constatou que "privacidade familiar" legalmente contrapos o conceito competir de "os melhores interesses da criança." Neste extremo, isto é exatamente a mesma noção que permitiu e encorajou violência doméstica. Experts legais sugeriram aplicar este ethos da privacidade para outros problemas sociais. Na edição de 12 de junho da New Republic, Jeffrey Rosen propôs que assédio sexual no lugar de trabalho poderia ser melhor trabalhado por um conceito expandido de "invasão de privacidade" ao invés do recentemente-aceito (embora problemático) modelo "ambiente de trabalho hostil". Ele argumento que "indignidade e humilhação" causadas pelo assédio sexual poderia ser entedidos como uma invasão de privacidade pessoal e "uma injúria à dignidade." Este argumento reconhece que assédio sexual viola a integridade do corpo assediado. Mas, como as outras soluções de "privacidade", se dirije ao problema construindo uma zona de buffer que separa uma pessoa da outra, o eu da sociedade. Isso, at heart, é o que está errado com o argumento da privacidade. Ele continuinamente procura seguridade e liberdade pessoal ao remover o indivíduo da sociedade. Ao invés de assertar que sexualidade ou relações sexuais são boas e positivas, ele procura as "proteger" movendo-as da esfera pública para a privada. Tal proteção é um retrocesso que nunca irá estabelecer um direito a nossa básica autonomia firme e inviolavel. Não deveríamos todos nós estarmos indo para um lugar onde a privacidade é uma opção, e não um requerimento para liberdade pessoal? Não deveríamos nos mover para um lugar onde temos o direito de "ser"--não o direito de "ser privado?"

Michael Bronski


Há interesse em um aparato de proteção política quando há algo para ser protegido. Se a minha aceitação depende da minha habilidade manter um lar, o que significa não ter um?




Uma nota sobre o espaço


O espaço que demandamos é apenas o espaço que estamos condicionados a esperar como homens em uma sociedade patriarcal, espaço que foi apenas parcialmente suspendido porque chupamos rola. Mulheres ainda não conseguiram acesso a este espaço, seja literal em termos de território público, ou metaforicamente em termos de mídia da expressão cultural, sexual e política. Resumo, pornografia gay lucra de e aspira para a presença institucionalizada do poder pratriarcal construído na ausência/silêncio das mulheres, e isto assim é cúmplice na opressão das mulheres. Isto é verdade e dói. Mas não é tudo da verdade. Primeiramente nossos pedidos por espaço, privado, gueto e público, não foram alcançados senão de modo incompleto e provisório, sempre sujeito à invasão e revocação. Espaços guetificados, como as mulheres sempre sentiram em suas cozinhas e porões e escritórios de igrejas, não são substitutos para espaço político autonomo. Nossa pornografia, de fato, reflete o reconhecimento desta insuficiência.





Explorar prostituição militarizada é importante primeiro porque as vidas de tantas mulheres em tantos países foram diretamente e indiretamente afetadas por esta instituição. Segundo, o assunto deveria atrair nossa atenção porque muitos homens tiveram suas expectativas, e fantasias, sobre mulheres formadas pela sua própria participação na prostituição militarizada. Terceiro, as tentativas de fazedores de política militar em construir o tipo (ou um particular grupo de tipos) de masculinidade que melhor caibam em sua missão militar são expostas ao tomar seriamente suas políticas de prostituição militar. Quarto, nós precisamos pensar cuidadosamente sobre prostituição militarizada porque cálculos sobre isso moldaram políticas externas e alianças internacionais. Quinto, entendendo qualquer politica militar sobre prostituição irá dar luz no pensamento que esconde por trás de suas politicas no estupro, recrutamento, assédio sexual, moral, homossexualidade, pornografia, e casamento. Finalmente, devotando energia analitica para as políticas da prostituiçao militar pode nos ajudar explicar porque políticas de prostituição de militares estrangeiros podem geralmente capturar a atenção de homens locais nacionalistas enquanto estes mesmos líderes de protesto não apenas continuam a ignorar a prostituição de políticas dos militares de seu próprio país mas também teimosamente resistindo o esforço feminista local em fazer sexualidade um tópico explícito no mais amplo movimento nacionalista.

cynthia enloe, manouvers



http://www.fpif.org/briefs/vol5/v5n36masculinity_body.html

SEXO E REVOLUÇÃO

No dia 1° de novembro de 1968, na Argentina, durante a ditadura militar
anterior (1966-1973), em uma casa de imigrantes do subúrbio de Buenos
Aires, um grupo de homossexuais trabalhadores e de classe média baixa,
em sua maioria oriundos do movimento sindical , liderados por um
comunista expulso do partido por ser homossexual, formam Nuestro Mundo, o
primeiro grupo homossexual sexopolítico da América Latina, que trabalha na
clandestinidade. Em agosto de 1971, Nuestro Mundo aproxima-se de
intelectuais de classe média e, mantendo a sua autonomia, é fundada a Frente
de Liberación homosexual (FLH).

Em 1972, é derrubada a ditadura na Argentina e é o momento do apogeu e
esplendor da FLH, que edita o seu primeiro boletim. Participam da
Frente 10 grupos autônomos, incluindo vários de cidades do interior da
Argentina. São eles: Nuestro Mundo (sindicalistas), Safo (lésbicas), Eros
(universitários), Bandera Negra (anarquistas), Emanuelle, bem como
profissionais liberais e católicos (QUÊ???????) homossexuais argentinos.

Em 1973, com o retorno da democracia na Argentina, é publicado e
difundido o texto Sexo y Revolución, provocando um grande debate nos grupos
homossexuais e na esquerda. Também é publicado Somos, publicação oficial
da FLH, e primeira revista homossexual da América Latina. Dela chegam a
ser produzidas oito edições,a última publicada em janeiro de 1976, dois
meses antes do golpe de Estado e da nova ditadura militar (1976-1983).
A partir de então, a ditadura seqüestra, desaparece e assassina
milhares de argentinos, entre eles os militantes homossexuais; aniquilando
toda possibilidade de continuidade do movimento.
Devemos começar perguntando quais fatores inerentes ao ser humano -
como espécie - criam, mantém e perpetuam a origem da dominação. Porque, se
não tivermos claros esses fatores, nos seria impossível explicar porque
os seres humanos aceitam e, muitas vezes, defendem a opressão a que são
submetidos, que os priva da saúde física e até da sua liberdade.

Sendo característica do sistema de produção capitalista a produção para
o benefício de uma classe dominante, é interesse desta classe o
estabelecimento lapidar da dominação sobre o resto dos seres humanos. Deste
modo, os indivíduos são moldados para serem dominados e/ou para dominar,
e isto se realiza através de mecanismos psicológicos específicos
poderosos; mecanismos que por fim, acabam sustentando e perpetuando essa
ordem de dominação. O importante é então, discernir os vínculos existentes
entre a estrutura da exploração (extração de mais-valia) e a ideologia
cotidiana que envolve cada um desses atos individuais, por mínimos que
sejam. O propósito, o sentido e o eixo do sistema de exploração é
assegurar a exploração da força de trabalho em benefício de uma classe.
Todos os atos de todos os indivíduos estão dirigidos rumo a esse fim
supremo. Nenhuma área de comportamento individual pode escapar a esta
supradeterminação, caso contrário, o indivíduo seria livre para questionar o
sistema de dominação. É por isso que todos os atos privados e todos os
ator coletivos acabam por serem ator que cumprem uma função política.
Todo ser humano enfrenta, a partir de seu nascimento, um primeiro
grupo: a família. O que significa família? Para um ser como o humano, cujo
período de aprendizagem é o mais longo na escala biológica, faz-se
necessária uma agência social especificamente encarregada de orientá-lo,
ajudá-lo e mantê-lo nesse processo. Isto significa que a família é uma
fábrica de seres humanos sociais. Ora bem, na medida em que um grupo
social alicerçado na exploração necessita de pessoas pré-adaptadas para
entrar no processo de produção alienada, a família, mantenedora, deve
converter-se em uma agência deformadora. Trata-se de uma micro-sociedade que
reproduz em amálgama o sistema que a nutre.

A velha afirmação de que "A
família é a base da sociedade" adquire plena validade, uma vez que
reproduz todas as suas características, visto que é agência de produção
detses seres humanos condicionados ao sistema.

Em uma família-pradão há um detentor do poder, o macho, na medida em
que manipula o poder econômico na família, o poder político na sociedade,
manipula por direito próprio o sistema de relações sociais. O objeto de
sua dominação é, em primeiro lugar, a mulher, e em segundo lugar, os
filhos, que são o produto-mercadoria da fábrica familiar. A finalidade da
família é produzir seres humanos que substituam os seus progenitores em
suas tarefas, inculcando-lhes antes os mecanismos de dominação para que
as realizem sem protesto. Desta maneira se verifica e assegura neste
nível, do mesmo modo que nas outras escalas da vida social, a dicotomia
opressores/oprimidos.

Esta dominação não é só uma questão teórica abstrata, mas que, como já
dissemos, orienta todos os atos cotidianos. Revela-se essencialmente no
poder sexual do macho sobre a fêmea no coito. O coito torna-se uma
instituição estruturada culturalmente para a satisfação do varão, que detém
toda a iniciativa, e que possui o direito legítimo de gozar. Esta
dominação no coito é em última instância, no terreno ideológico, a
manifestação objetiva da dominação da mulher pelo varão na vida cotidiana. Deste
modo a mulher torna-se um objeto de prazer e de reprodução. É
necessário destacar que o sistema lhe impõe a obrigação de realizar as tarefas
domésticas sem dar-lhe o direito a nenhuma remuneração, o que desmascara
a sua verdadeira condição: a escravidão doméstica. A inserção das
mulheres no aparato produtivo minou, relativamente, a autoridade do macho e
inspirou exigências às mulheres. Contudo, as conquistas alcançadas
pelas mulheres não conseguiram alterar - até o momento - a essência do
sistema de dominação machista.

De fato, os varões seguem manipulando as
engrenagens básicas do processo de produção, e continuam desempenhando o
papel de Protagonista no sexo. O núcleo de opressão da mulher, segue
assim intacto.
Esta dupla dominação, na qual a nova igualdade é um blefe, se reproduz,
tem filhos, e se forma para isto. Os filhos são os objetos da dominação
paternal. O pai que controla o dinheiro, possui concomitantemente o
poder de emitir ordens inapeláveis, abonado pela ideologia falaciosa de
que o filho é um incapaz crônico, sem poder, nem direito de escolher seus
atos. É um objeto de possessão de seus pais, situação sancionada pelo
conceito jurídico de pátrio poder. A sexualidade infantil é negada pela
ideologia do sistema; na medida em que, sem dúvida ela existe
objetivamente, esta negação funciona na prática como uma mutilação. Com é
realmente a sexualidade infantil? A sexualidade infantil mostra a variedade
de impulsos e diversidade de objetos que formam a libido humana, e neste
sentido, é a face mais autêntica da vida. A realidade é que na
sexualidade, na multiplicidade, na riqueza de suas potencialidades, está o
primeiro vislumbre de liberdade que encontramos na natureza. E é este
enorme caudal de energia potencial da libido que deve ser desviado em
direção a meta social do trabalho alienado. A castração da sexualidade tem
como objetivo introduzir a dominação característica do sistema na própria
mente, em sua intimidade, a fim de "amolecer" o ser humano em terreno
fértil para a ideologia do sistema. Um ser humano que permita que seus
impulsos sexuais sejam objeto de dominação está preparado para adotar,
sem estranheza, o papel de dominador e/ou dominado. No sistema de
castas, os varões são educados na dominação, e as mulheres na submissão.

O
indivíduo internaliza os mesmos papéis que encontra na família: será o
pai opressor se é macho, ou a mãe submissa se é fêmea. A figura
autoritária é reproduzida portanto na figura da polícia, do patrão, do Estado,
mantenedoras do sistema frente as quais os indivíduos se inclinarão como
frente ao pai. Sendo assim, o esquema de dominação é transmitido
fielmente ao indivíduo através da família.
A dominação da libido culmina com sua redução a determinadas partes do
corpo, os genitais. Na realidade, todo o corpo é capaz de aportar o
gozo sexual, mas a sociedade de dominação necessita da maior quantidade de
zonas do corpo possíveis para agregá-las ao trabalho. A genitalização
está destinada a tirar do corpo sua função de reprodutor de prazer para
convertê-lo em instrumento de produção alienada, deixando a sexualidade
só o indispensável para reprodução. É por isso que o sistema condena
com especial severidade todas as formas de atividade sexual que não sejam
a introdução do pênis na vagina, chamando-as "perversões", desvios
patológicos etc. Para agrilhoar o ser humano ao trabalho alienado é
necessário mutilá-lo reduzindo sua sexualidade ao genitais. Devemos lembrar
que estes processos se dão dentro de um universo socioeconômico
específico caracterizado pela exploração. As classes dominantes realizam um
manejo muito particular de um processo universal inerente ao ser humano
como espécie: a livre disposição da energia sexual e seus fins.
Este esquema sexual perdeu sua rigidez característica do século 19, e
isto não é casual. Na medida em que o capitalismo se desgasta, à custa
de suas próprias contradições internas, revelam-se suas bases da miséria
econômica e sexual. Mas, na medida em que as necessidades de liberdade
não estão integradas a uma proposição revolucionárias explícita, é o
mesmo sistema único que lhes dá respostas, mantendo as mesmas bases da
opressão sexual mas oferecendo satisfações ilusórias ou substitutivas.

Assim, por exemplo, como resposta a estas exigências, o sistema produz e
encampa uma florescente indústria pornográfica, que transforma o
sujeito em espectador de suas próprias fantasias sexuais, em lugar de
converter-se em feliz ator das fantasias. A quem beneficia a preservação das
pautas morais tradicionais? As classes dominantes,as que asseguram assim
que os indivíduos submetidos a seu império sofrerão um processo de
socialização ("a educação") destinado a proporcionar-lhes, de forma
contínua, empregados dóceis.
Mas esta não é totalidade do sistema de opressão machista. Aqueles
indivíduos que não cumprem o papel sexual estabelecido, os homossexuais,
são tidos como grande perigo por este sistema, na medida em que não só o
desafiam, mas que também desmentem suas pretensões de identificarem-se
com a ordem da Natureza. A dessexualização do corpo humano é obra da
cultura. No caso do varão, ela interdita o coito anal passivo, a
utilização do ânus como zona sexual, apesar do fato dele estar rodeado de
terminações nervosas eróticas. Também são um grande tabu os mamilos
masculinos, apesar de ser área herógena, apenas por sua semelhança com a
anatomia feminina. Para isso é necessário importar categorias teológicas à
sexualidade humana, e é neste intento que devemos ver a enfermidade da
cultura. Se o sexo tem alguma função, é a de unir os seres humanos em
formas constantemente renovadas e criativas. O contrário significa reduzir
o sexo em uma só de suas possibilidades: a reprodução. É por isso que a
cultura machista necessita qualificar os homossexuais de "degenerados",
"doentes", "anormais", e "delinqüentes". Na realidade, os homossexuais
reivindicam as possibilidades plásticas inerentes à libido humana, que
o sistema de dominação sexista insiste em mutilar. E o processo de
socialização alienada que introduz a separação entre o bom e o mal, a culpa
e a consciência.

Esta divisão desigual de poder sexual em favor dos
varões heterossexuais se reflete em uma poderosa ideologia: aqueles que
violam suas leis - algumas escritas, outras não, mas totalmente efetivas
e vigentes - recebem não só uma sanção moral que seria a culpa, como
também são penalizados pelo aparato do Estado.
Os homossexuais são emissários da repressão sexual, sobre os quais
recaem os castigos mais severos e imediatos. A Frente de Liberación
Homosexual considera que é chegado o momento de propor e começar a realizar
uma revolução que, simultaneamente com as bases econômicas e políticas do
sistema, liquide suas bases ideológicas sexistas, tendo em conta que,
do contrário, o sistema de opressão se reproduzirá automaticamente
depois de um processo revolucionário que só altere as esferas políticas e
econômicas. Nosso movimento surge como uma organização de homossexuais,
de ambos os sexos, que não estão dispostos a seguir suportando uma
situação de marginalização e perseguição pelo simples fato de exercer uma
das formas de sexualidade. Como temos pretendido demonstrar, esta
perseguição tem uma raiz claramente política. O sexo é uma questão política. E
nesta, medida,a liberação que postulamos não pode ter lugar dentro de
um sistema econômico de dominação, tal como é o capitalismo dependente
argentino. Mas, partindo de nossa própria marginalização, questionamos a
partir dela, a sociedade sexista, e chegamos a um questionamento global
da sociedade. Os homossexuais são um setor do povo que sofre uma forma
de repressão discriminada e específica, originada nos interesses mesmos
do sistema, e internalizada pela maioria da população, inclusive por
alguns setores que se pretendem revolucionários.

Neste sentido, permanecem intactas muitas formas de preconceito
anti-homossexual (homofobia), disfarçados, por vezes de críticas políticas.
Por exemplo, se coloca o título de objeção que a homossexualidade é
produto do capitalismo decadente. Sem dúvida, sociedades que não eram
capitalistas nem decadentes, como a Inca o praticavam e o louvavam. Temos
visto além disso, que a libido humana original não despreza nenhuma das
suas possibilidades. Por detrás desta colocação se esconde a incapacidade
de formular uma ordem nova, uma cotidianidade verdadeiramente
revolucionária.
Outra objeção é que a FLH é um movimento sectário, na medida em que não
se integra aos movimentos de liberação política. A razão é muito
simples:a nós, como a todos os marginalizados, não iremos defender nada,
salvo a nós mesmos. Na verdade, o argumento é uma falácia: de fato aqueles
que nos marginalizam são eles. Algumas colocações tendem a considerar
como contraditório o fato de que, enquanto postulamos a liberação
sexual, nos organizemos como um grupo de homossexuais. Fazê-lo de outro modo
significa dissolver nossa opressão específica, esquecendo que sobre nós
pesa uma condenação explícita. Os oprimidos especificamente pelo
sexismo do seio da sociedade capitalista somos nós, os homossexuais e as
mulheres, e os varões heterossexuais adquirem objetivamente, socialmente
falando, o caráter de grupo opressor. Sendo assim, este caráter de
opressores não é eleito livremente por eles, mas lhe é culturalmente importo
pela sociedade de dominação. Existe uma evidente defasagem entre a
política como atividade externa, social, e a política como atividade
privada, individual, interna. A ideologia não é só uma superestrutura
intelectual montada sobre as bases afetivas do ser humano, estas bases estão
estruturadas em um sentido político, a partir do berço, pela sociedade
em que o indivíduo nasce.

A política é algo que se exerce em todos os
movimentos da vida cotidiana e que transparece em todas as escolhas, por
ínfimas que sejam.
Também por isso o questionamento revolucionário da sociedade de
dominação deve estender-se a todas a suas esferas de atividades. Um práxis
revolucionária que não coloque em juízo de valor a moral burguesa, está
aceitando-a objetivamente e perpetua por um lado o que pretende destruir
pelo outro.A desintegração da vida privada e a ação política
possibilita, além do mais, que muitas pessoas, depois de longos períodos de
militância, sejam recapturadas pela burguesia através da formação de uma
família, da construção de um "lar" e da criação dos filhos. A FLH é uma
organização não verticalista nem centralista de homossexuais - e na qual
também podem participar heterossexuais que renunciem seus privilégios -
que se empenha na tarefa de integrar as reivindicações específicas do
setor homossexual ao processo revolucionário global. É um movimento
anti-capitalista, anti-imperalista e anti-autoritário, cuja contribuição
pretende ser o resgate para a liberação de uma das áreas através das
quais são possibilitadas e sustentadas a dominação da mulher e do homem
pelo homem.

Estamos conscientes que o sistema maneja amplos setores do povo
valendo-se da moral, ou seja, de mentiras interessadas. Estamos conscientes de
que o povo abandonará seus preconceitos, que constituem uma trava
concreta para o desenvolvimento revolucionário, na medida que nós, os
homossexuais, tomemos parte ativa e militante de uma luta que também é nossa.
Chamamos aos homossexuais, às mulheres, aos verdadeiros revolucionários
a realizar o esforço que supões questionar as pautas originais do
sistema de exploração, a fim de que recuperemos a nós mesmos como atores
eficientes de uma revolução sem retrocesso.


Enrique Asis, participante da Frente de Liberación Homosexual (Argentina), foi escrito entre 1973 e 1974.



Sexando o corpo

Em A Tempestade, Prospero denuncia Caliban como, "Um demônio, um demônio de nascença, um em que sua criação nunca poderia durar..." Essa passagem de A Tempestade deixa claro que as questões da natureza e criação se complicaram.

Cultura européia por um tempo. Modos euro-americanos de entender como o mundo funciona depende fortemente do uso de dualismos--pares de conceitos opostos, objetos ou sistemas de crença. Deixe-me considerar hoje três pares relacionados --sexo/gênero, natureza/criação e real/construído. Nós geralmente aplicamos dualismos em alguma forma de argumento hierárquico. Prospero reclama que a natureza controla o comportamento de Caliban e que suas, de Prospero, "dores humanamente tidas"(para civilizar Caliban) não são em vão. Criação humana não consegue conquistar a natureza do demônio. Hoje, irei argumentar que questões intelectuais não podem ser resolvidas nem progresso social ao reverter à reclamação de Prospero. Na criação do conhecimento biológico da sexualidade humana, eu espero destruir o nó Gordiano do pensamento dualístico. Eu proponho ao invés do natural vs. criação ou real vs. construído, que a sexualidade é um fator somático criado por um efeito cultural.

No final, o dualismo sexo/gênero limita o feminismo e outras formas de análises. O termo 'gênero,' colocado em uma dicotomia, necessariamente exclui biologia. Pensando criticamente sobre a biologia permanece impossível por causa da divisão real/construído(as vezes formulado como a divisão entre natureza e cultura), em que muitos mapeam o conhecimento do real dentro do domínio da ciência enquanto igualam o construído com o cultural. Formulações dicotomicas de feministas e não-feministas conspiram em fazer uma análise socio-cultural do corpo parecer impossível.
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Algumas teóricas feministas, especialmente durante a última década, tentaram --com graus variados de sucesso-- criar um relato não-dualístico do corpo. Filósofa feminista Judith Butler, por exemplo, tenta reclamar o corpo material para o pensamento feminista. Porquê, ela pergunta, a idéia da materialidade veio a significar aquilo que é irreduzível, que suporta construção mas não pode, ela mesmo ser construída. Nós temos, Butler diz,(e eu concordo) que falar sobre o corpo material. Existem hormônios, genes, próstatas, útero e outras partes corporais e fisiologias que nós usamos para diferenciar masculino do feminino, que se tornam parte do chão de onde variedades de experiências sexuais e desejos emergem. Adiante, variações em cada um destes aspectos da fisiologia afetam profundamente a experiência de genêro e sexualidade de um indivíduo. Mas cada vez que tentamos retornar ao corpo como algo que existe anterior à socialização, anterior ao discurso sobre homem e mulher, Butler diz, "nós descobrimos que a matéria é inteiramente sedimentada com discursos sobre sexo e sexualidade que prefiguram e contem os usos aos quais aquele termo pode ser posto."

Noções ocidentais da matéria e materialidade corporal, argumenta Butler, tem sido construídas através de uma 'matrix de genêros'. Filósofos clássicas associaram feminilidade com materialidade. Considere, por exemplo, as origens da palavra 'matéria' de matéria e matrix se referindo ao útero e problemas de reprodução. Em ambos grego e latim, de acordo com Butler, matéria não era entendida como um branco passado esperando a aplicação de significado exterior.

"A matrix é um... princípio formativo que inaugura e informa um desenvolvimento de algum organismo ou objeto...para Aristótoles,'matéria é potencialidade, forma exatamente'...Na reprodução mulheres são ditas a contribuir com a matéria, homem com a forma." Como Butler nota, o título de seu livro, Bodies that Matter, é trocadilho intencional. Para ser material é preciso falar sobre o processo da materialização. E se pontos de vistas sobre sexo e sexualidade já estão afogados em nossos conceitos filosóficos de como a matéria forma o corpo, a matéria dos corpos não pode ser um ponto de partida neutro, para entender as origens da diferença sexual. Isto, então, é nosso dilema: já que a matéria já contém noções de gênero e sexualidade, ela não pode ser um recurso neutro para construir teorias "científicas" ou "objetivas" do desenvolvimento sexual e diferenciação. Ao mesmo tempo, nós temos que reconhecer e usar aspectos da materialidade que 'pertencem ao corpo'. "Os domínios da biologia, anatomia, fisologia, composição hormonal e química, doença, peso de idade, metabolismo, vida e morte" não podem "serem negados". Em outras palavras, para falar sobre sexualidade humana requer uma noção do material. No entanto a idéia do material nos vem à mente manchada, trazendo consigo idéias pré-existentes sobre diferenciação sexual. Butler sugere que devemos olhar o corpo como um sistema que simultaneamente produz e é produzido por significados sociais, como qualquer outro organismo sempre resulta de combinadas e simultaneas ações de natureza e criação.

Diferente de Butler, filósofa feminista Elizabeth Grosz permite alguns processos biológicos um status que pré-existe seus significados. Ela acredita que instintos biológicos ou desejos oferecem um tipo de material cru para o desenvolvimento da sexualidade. Mas materiais crus nunca são o suficiente. Eles devem ser oferecidos com um jogo de significados, "uma rede de desejos que" organizam o significado e a consciência das funções corporais da criança. Essa alegação se torna clara se alguém seguir estórias das chamadas "crianças selvagens" criadas sem restrições humanas ou incultição de significado. Tais crianças não adquirem linguagem nem desejo sexual. Enquanto seus corpos oferecem os materiais crus, sem um cenário social humano, a argila não pôde ser moldada em uma forma física reconhecível. Sem sociedade humana, sexualidade humana não pode se desenvolver. Grosz tenta entender como a sociedade humana e significado que claramente se originam fora do corpo, acabam incorporados em seus comportamentos fisiológicos, por fora, ambos inconsciente e consciente. Alguns problemas concretos exemplificam este problema: considere uma velhinha de cabelos brancos, bem na sua nona década, olhando no espelho sua face enrugada. "Quem é esta mulher no espelho?" ela imagina. Sua imagem mental do corpo não sincroniza com a reflexão do espelho. Sua filha, agora nos seus cinquenta, tenta lembrar que ao menos ela use os músculos da perna ao inves dos ligamentos do joelho, descer e subir as escadas será um tanto doloroso. (Eventualmente ela irá adquirir um novo hábito kinésico e dispensar com pensamento consciente sobre a matéria). Ambas mulheres estão trabalhando para reajustar os componentes visuais e kinésicos de seus corpos, formados na base de informação passada, mas sempre um pouco fora de data com o corpo físico atual. Como tais reajustamentos ocorrem, e comos nossas primeiras imagens corporais se formam em primeiro lugar? Para discutir este problema nós precisamos de um novo conceito de psique --um lugar onde uma translação de d

translação de dois lugares entre a mente e o corpo toma lugar-- uma nações unidas, como foi, de corpos e experiências. Em Volalite Bodies Elizabeth Grosz pensa em voz alta como o corpo e a mente vem a serem juntos. Para facilitar seu projeto ela usa a imagem da fita de Mobius como uma metáfora para a psique. A fita de Mobius é uma peça topológica, uma fita lisa, por imaginar uma formiga andando ao longo dela. No começo da jornada circular, a formiga está claramente no lado de fora. Mas conforme atravessa a fita distorcida, sem nunca levantar suas pernas do plano, ela termina na superfície interior. Grosz propoe que pensemos do corpo --o cérebro, músculos, orgãos sexuais, hormônios e mais comprometendo o interior da fita de Mobius. Cultura e experiência, constituiriam a superfície exterior. Mas, como a imagem sugere, interior e exterior são continuos e um pode se mover de um espaço para o outro sem nunca levanter o pé do chão.

Grozs enxerga que corpos criam psiques usando a libido como caneta para marcar os traços do caminho dos processos biológicos para uma estrutura interior de desejo. Isto cai em uma arena diferente de erudição estudar o "exterior" da fita, uma superfícia mais obviamente marcada por "textos, leis e práticas pedagógicas, jurídicas, médicas e econômicas" para "tirar um subject social... capaz de trabalho, ou produção e manipulação, um subject capaz de atuar como um subjecy...". Grosz também rejeita o modelo natureza vs. criação do comportamento humano. Enquanto reconhece que nós não entendemos os fins e limites da flexibilidade do corpo, ela insiste que nós não podemos meramente "subtrair o ambiente, cultura, história" e terminar com "natureza ou biologia." Isto é onde muitos trabalhos feministas são construídos.

Além de Dualismos

Grosz postula desejos inatos que se organizam por experiência física em sensações somáticas que traduzem aquilo que chamamos de emoção. Tomando o inato como valor próprio, no entanto, ainda nos deixa com um resíduo de natureza inexplicado. Humanos são biológicos mas em algum sendo natural E social, e mas em algum senso artificiais, ou, se quiser, entidades construídas. Podemos elaborar um modo de nos vermos, conforme nos desenvolvemos de fertilização à idade adulta, como simultaneamente natural e inatural? Durante a decada passada uma visão excitante surgiu na qual eu levemente me juntei sob a rubrica da teoria de sistemas desenvolvementistas, ou DST. O que ganhamos escolhendo DST como um alicerce analítico? Teorias de sistemas desenvolvementistas negam que existam dois fundamentais tipo de processos, um guiado por genes, hormonios e células cerebrais (i.e. natureza), e o outro pelo ambiente, experiência, aprendizado ou forças sociais incipientes (i.e. criação).

Como, especificamente, DST pode nos ajudar quebrar os processos de pensamentos dualísticos? Considere um bode nascido sem pernas. Durante sua vida ele manejou se mover em seus membros escondidos. Um anatomista que estudou o bode depois de sua morte descobriu que ele possuía um coluna em formato de S (assim como humanos) "Ossos espessos, inserções musculares modificadas, e outras correlações de se mover em duas pernas." Este (e o de todos os bodes) sistema esquelético desenvolveu-se como parte de sua maneira de andar. Nem seus genes, nem seu ambiente determinou sua biologia. Apenas o conjunto tinha esse poder. Muitos fisiologistas desenvolvementistas reconhecem este princípio. Como um biologista escreve, "Enstruturação ocorre durante a performance de estórias de vidas individuais." Alguns anos atrás, quando neurocientista Simon LeVay relatou que estruturas cerebrais de homens gays e heterossexuais diferenciam (e isto espelhou uma diferença mais geral da diferença entre homens e mulheres hétero), ele se tornou o centro de uma tormenta. Embora um herói instantaneo entre muitos homens gays, ele esteve em problema com um grupo misto de pessoas. Por um lado feministas como eu desgostaram de seu uso inquestionavel de dicotomias de gênero que no passado nunca funcionaram para aprofundar a igualdade para mulheres. Por outro, membros da direita religiosa odiaram seu trabalho porque acreditam que homossexualidade é um pecado que individuos podem escolher rejeitar. O trabalho de LeVay, e mais tarde de geneticista Dean Hamer, sugeriu a eles que homossexualidade é inerente ou inata. A linguagem do debate público rapidamente se tornou polarizado. Ambos lados contrastaram palavras como genética, biológica, inerente, inata, e imutavel com aqueles de ambiental, adquirido, construído e escolha.

Para facilitar como tais debates evocam a divisão natureza/criação é um consequência da pobreza de uma aproximação não-sistemáticas. Politicamente, o alicerce natureza/criação carrega perigos enormes. Embora uma esperença de que crença no lado natural das coisas irá levar a maior tolerância, história passada sugere que o oposto também é possível. Até mesmo os arquitetos do argumento da natureza reconhecem os perigos. Em uma passagem extraordinária nas páginas de Science, Dean Hamer e seus colaboradores indicaram sua preocupação. "Seria fundamentalmente anti-ético usar tal informação para mudar ou alterar a orientação sexual presente ou futura de uma pessoa... Invés, cientistas, educadores, fazedores-de-política e o público deveriam trabalhar juntos para que tal pesquisa é usada para o benefício de todos da sociedade." Fisiologista feminista e teórica crítica Elisabeth Wilson usa o hubbud em cima do trabalho de LeVay para fazer alguns pontos interessantes sobre teorias de sistema. Muitas feministas, teoristas críticos e queer trabalham por deliberamente deslocar biologia, assim abrindo o corpo para formação social e cultural. Isto, no entanto, é o movimento errado a se fazer. Wilson escreve: "O que pode ser politica e criticamente controvertido na hipótese de Levay não é a conjunção neurologia-sexualidade por si, mas a maneira particular com a qual tal conjunção é feita." Uma resposta política efetiva, ela continua, não precisa separar o estudo da sexualidade das neurociências. Ao inves, Wilson, que deseja que nós desenvolvemos uma teoria de mente e corpo --um relato da psique que se junta à libido do corpo-- sugere que nós feministas incorporemos em nossa visão do mundo um relato de como o cérebro funciona isto é, largamente falando, chamado conexionismo.

A aproximação fora de data de entender o cérebro era anatômica. Função poderia ser localizada em partes particulares do cérebro. No fim função e anatomia eram um. Esta idéia carrega a revolta com o trabalho de LeVay. Muitos cientistas acreditam que diferença estrutural representa a localização cerebral para diferenças comportamentais medidas. Em contraste, modelos conexionistas argumentam que função emerge da complexidade e força de várias conexões neurais atuando de uma vez. Este sistema tem algumas características importantes: (1) as respostas não são sempre lineares, (2) as redes podem ser "treinadas" para responder de formas particulares, (3) a natureza da resposta não pode ser facilmente previzivel, e (4) informação não é localizada em lugar nenhum, inves é o resultado redial de várias diferentes conexões e suas forças variaveis.

As doutrinas de alguma teoria conexionista oferecem pontos de partida interessantes para entender desenvolvimento sexual humano. Porque redes conexionistas, por exemplo, são geralmente não-lineares, pequenas mudanças podem produzir efeitos grandes. Uma implicação para estudar sexualidade: nós podemos facilmente estar olhando para os lugares errados e na escala errada para aspectos do ambiente que formam o desenvolvimento humano. Adiante, um comportamento único pode ter muitas causas sublinhadas: eventos que ocorrem em tempos diferentes do desenvolvimento. Eu suspeito que sexualidades que nos rotulam como homossexual, heterossexuai, bissexual, e transgênero não são boas categorias de forma alguma, e são melhores entedidas apenas em termos de eventos únicos de desenvolvimento individual. Assim, eu concordo com aqueles conexionistas que argumentam que "o processo de desenvolvimento em si está no coração da aquisição de conhecimento...Desenvolvimento é um processo de emergência."

Na maioria das públicas e em algumas científicas discussões, sexo e natureza, são pensados como real, enquanto gênero e cultura são vistos como criação. Mas estas são falsas dicotomias. As vezes, por exemplo, sexo é, literalmente, construído. No caso da intersexualidade, cirurgiões removem partes e usam plástico para criar genitália "apropriada" para pessoas nascidas com partes de corpo que não são facilmente identificaveis como macho ou femea. Médicos acreditam que suas habilidades os permite "ouvir" a natureza dizer a verdade sobre que sexo seu paciente terá de ser. Alas, suas verdades vem da arena social e são reinforçadas, em parte, pela tradição médica de tornar nascimentos intersexuais invisíveis.

Deixe-me resumir: quando examinamos a construção da sexualidade começando com estruturas visíveis da superfície exterior do corpo terminando com comportamentos e motivações --isto é com atividades e forças que são onipatentes invisíveis-- inferidas apenas com seu resultado, mas presumidas em serem localizadas pronfudas dentro do interior do corpo nós descobrimos que comportamentos são geralmente atividades sociais, expressadas em interação com objetos e seres distintamente separados. Assim, como nos movemos da genitália para o exterior, da psique invisível, nós nos encontramos, de repente, andando sob a superfície de uma fita de Mobius ao contrário, e além, do exterior do corpo. Apenas se conceitualizarmos a sexualidade como parte de um sistema desenvolvementista que alcança de nossa história social e cultural até as células de nossos corpos nós poderemos aprender como nos mover do exterior para o interior e para fora de novo, sem nunca levantar nossos pés da superfície da fita.

Este artigo é um versão do Capítulo Um: Sexing the Body: Gender Politics and the Construction of Sexuality.

outros artigos de Anne Fausto-Sterling http://bms.brown.edu/faculty/f/afs/afs_publications_articles.htm

publicado também no international journal of transgenderism http://www.symposion.com/

"Nós queremos a abolição da instituição da família nuclear burguesa. Nós acreditamos que a família nuclear burguesa perpetua falsas categorias de homossexualidade e heterossexualidade ao criar papéis sexuais, definições sexuais e exploração sexual. A família nuclear burguesa como a unidade básica do capitalismo cria papéis opressivos de homossexualidade e heterossexualidade. É o direito de todas as crianças se desenvolverem em uma atmosfera não-sexista, não-racista, não-possessiva que é a responsabilidade de todos nós, incluindo os gays, de criar."
--“Third World Gay Liberation Manifesto,” New York City (circa 1970)

Gay Liberation Front: Manifesto
http://www.fordham.edu/halsall/pwh/glf-london.html


Sermos mulheres juntas não era suficiente.
Nós éramos diferentes.
Sermos garotas lésbicas juntas não era suficiente.
Nós éramos diferentes.
Sermos negras juntas não era suficiente.
Nós éramos diferentes.
Sermos mulheres negras juntas não era suficiente
Nós éramos diferentes.
Sermos lésbicas negras juntas não era suficiente
Nós éramos diferentes.
Demorou algum tempo até percebermos que nosso lugar era a casa da diferença ela mesma, ao invés da segurança de qualquer diferença em particular

-audre lorde

feminismo lésbico anti neoliberal, antidiversidade
http://enrebeldia.blogspot.com/2006/08/subvirtiendo-el-patriarcado-desde-una.html
http://enrebeldia.blogspot.com/2006/08/de-la-visibilidad-la-lucha-lsbika-o-la_18.html
http://enrebeldia.blogspot.com/2006/09/justicia-y-lesbianismo.html
http://enrebeldia.blogspot.com/2006/09/emancipao-das-mulheres-compatvel-com-o.html
http://enrebeldia.blogspot.com/2006/08/relacionamentos-abertos.html
“É fundamental enfatizar que existe um antagonismo entre Diversidade sexual e Dissidência sexo-genérica, a primeira, é um movimento neo-liberal mercantil que responde aos ditames do livre mercado impulsionada pela globalização imperialista. O segundo, é um movimento social político e crítico que integra lesbianas, homossexuais, bissexuais, transgêneros e transexuais críticos e de esquerda, a que pertenço (…).

Pareceria que depois de 30 anos de luta teriam havido progressos extraordinários; que a situação das lésbicas agora é completamente diferente daquela “pré-história” do movimento; que hoje só falta afinar irregularidades ou omissões a respeito dos direitos civis, de trabalho e políticos das cidadãs lésbicas; (…) isto é uma ilusão, tal progresso é absolutamente relativo(…). Quando nos anos 70 (do século passado) afirmávamos: não buscamos a liberação das lésbicas dentro do capitalismo e, inclusive, mais além: nos negamos a aceitar a liberação lésbica dentro do capitalismo era porque entendíamos perfeitamente bem que no marco de um sistema econômico e político opressivo não era possível a liberação de nenhum ser humano. (…).
No entanto, durante essas últimas décadas de modelo econômico neo-liberal, o Mercado da Diversidade Sexual, MDS -que constitui uma parte fundamental do dito modelo- criou uma tecno-ideologia extremamente sofisticada em torno da sexualidade (queer, poli, s/m, pluri, metro, hard, adrenalina-sex, filias, SMS, etc.) como extensão fundamental do livre mercado. Ideologia promovida por muitos dos ex-ativistas do mesmo movimento GLTB que utilizam a comunidade sexo-genérica unicamente quando se trata de desenvolver e proteger seus negócios, líderes de opinião que promovem a ilusão de que já se goza de liberdade sexual porque se tem acesso a discos, roupas de marcas, hotéis, sex-shops, publicações, restaurantes, programas de TV e cinema e porque já se chegou ao Congresso e a postos públicos no governo, entre outras conquistas. (…).



Dentro desse marco de controle por parte do MSD sobre a sexualidade na lógica do livre mercado, a aplicação da noção de justiça ao setor social lésbico é algo totalmente incoerente(…).A colocação de alcançar justiça para as lésbicas dentro desse sistema social é um postulado totalmente capitalista, iniciativa que propõe a liberdade dentro da escravidão, para benefício de alguns. (...) o neo-liberalismo aprofunda de maneira brutal o abismo existente entre as classes sociais porque, mesmo que a classe política gay não queira ver, nossa sociedade está dividida em duas classe fundamentais: uma minúscula minoria que fundamenta seu poder sobre a mega exploração das grandes maiorias e as próprias maiorias que vivem submetidas a se mesmas.

Proposta do lesbianismo feminista re-evolucionário.
Frente a esse panorama, apresento uma proposta a partir de uma perspectiva lésbico-feminista re-evolucionária com relação à extensão da justiça ao setor de lésbicas s mexicanas.
A colocação da igualdade jurídica só será possível se ocorrer uma mudança de sistema social, uma mudança radical das estruturas que o compõe, isto é, se ocorrer a construção de um novo sistema econômico, político, social, cultural, sexual e espiritual que permita a construção de uma nova organização e estrutura interhumana que implique numa nova concepção do que deve ser a imparcialidade da justiça e a aplicação do direito.

Esta proposta –feita em um lugar tão institucional- pareceria uma colocação fora da realidade. Entretanto, essa iniciativa está sendo construída agora mesmo na Bolívia e na Venezuela, sem esquecer que foi a proposta que inspirou os projetos socialistas a nível mundial na primeira metade do século XX e que hoje mesmo está impulsionando o movimento zapatista, em nosso próprio país, através da iniciativa da Nova Constituinte.



Constituinte que consiste precisamente em reorganizar nossa nação de outra maneira, de uma forma que represente os interesses, não dos grupos que dominam e exploram a nação de maneira predatória e genocída, mas que represente o interesse das maiorias, e das minorias, de mexicanas e mexicanos, onde se incluem, certamente, as lésbicas.
Obviamente, essa iniciativa supõe uma transformação substancial que se choca com os interesses econômicos da oligarquia que domina nosso país (da qual fazem parte as empresas para gays e atualmente os empresários gays), ademais de chocar-se com os interesses das multinacionais (da qual faz parte o MDS), particularmente do imperialismo norte-americano. A todos eles também nos confrontamos as lésbicas de esquerda.
Tanto a justiça como o direito, só e unicamente podem ser possíveis em um sistema de igualdade econômica, política e social, portanto, falar exclusivamente de “igualdade social” (como fazem os ideólogos gays) sem falar de igualdade econômica e política constitui uma contradição absoluta. No México isso não existe logo não se pode falar de justiça, talvez de uma “justiça totalmente injusta”, de um aparato de justiça e de uma legalidade impostos por alguns para manter as maiorias submetidas, sob a aparência do conceito sagrado de democracia burguesa.

“Desde o desenvolvimento da democracia norte-americana dos anos 20 do século XIX (Jacksonian Democracy) a idéia de democracia estava inseparavelmente unida às categorías de “propriedade privada”, “individualismo” e “economia de mercado capitalista” (Chomsky, Dieterich, p. 145). Propriedade privada (na minha cama mando eu), individualismo (meu prazer e meu orgasmo, seja com quem for e por todos os meios possíveis) e livre mercado (o ideal de todo o gay é chegar a ser empresário) constituem os princípios sobre os quais se constrói a cultura gay burguesa e o Mercado da Diversidade Sexual.



É precisamente dentro desse contexto que se deve colocar a opressão social e a repressão sexual (....) que atualmente chama-se: discriminação sexual ou de gênero. No entanto, as análises dos teóricos, acadêmicos ou ideólogos capitalistas ou pro-capitalistas aglutinados na direita intelectual gay, reduzem a discriminação sexual à mera manifestação ideológico-cultural, sem colocá-la como parte da engrenagem da economia política capitalista patriarcal e imperial e, em conseqüência, se limitam a impulsionar uma série de leis para estender os direitos civis, trabalhistas e políticos sem questionar o problema de fundo. Sem questionar a estrutura econômico-política do sistema. Essa lógica converte a classe gay política em cúmplice do dito sistema.



Mudar a raiz do sistema, significaria reconstruir a sociedade mundial sobre bases sociais não opressivas mas apoiadas na colaboração, cooperação, solidariedade, contribuição, trabalho mútuo, crescimento conjunto e bem comum, entre outros; superando as relações de opressão, controle, dominação, conquista, submissão, invasão repressão, extermínio (Palestina, África, Chiapas), etc., todas elas sustentadas na exploração de uns sobre outros, o que constitui a essência do patriarcado. Inimigo fundamental que combatemos as lésbicas feministas (mas não os e as gays).
Hoje, falar nestes termos resulta ridículo ante uma devastadora ideologia neo-liberal que nos roubou a capacidade de transformar nossa própria realidade com se essa fosse um destino imutável, um capitalismo invencível; que nos despojou de nossa fé na possibilidade de desenhar criativamente novos modelos de organização social não opressiva, como se a divisão social em classe fosse imutável, um destino fatal. Em síntese, ideologia que nos faz crer na incapacidade dos povos, da classe trabalhadora, das mulheres, entre outras, de modificar a realidade. Realidade que unicamente os donos do dinheiro (os apropriadores da riqueza social) podem modificar: Bush ou Israel podem modificar a realidade geopolítica internacional a seu gosto sem se importar com o extermínio massivo de seres humanos.
Esse destino inexorável, que está afiançado, avaliado e fortalecido pela classe político-empresarial gay aunado à classe político-empresarial das generistas (ex-feministas ou feministas de direita) e pela esquerda oportunista, IO. Essa situação só pode ser transformada pelo povo, pelo Terceiro Mundo (nova concepção do Terceiro Mundo), pela classe trabalhadora, pelos indígenas, pelos trabalhadores agrícolas, pelos operários, pelas mulheres, pelos sem terra, pelos desempregados, pelos ançiãos e particularmente pelas lésbicas feministas.



O processo de construção da sociedade futura justa é possível aqui e agora e não em um “futuro distante” ou “até a tomada do poder”. Prova disso são as comunidades indígenas autônomas zapatistas que estabeleceram seus próprios governos e sua própria administração assim como sua própria aplicação de justiça, aqui e agora em Chiapas no sudeste mexicano.
Quando um Estado governa através da injustiça: a imposição (governador de Oaxaca), a repressão (Atenco), a corrupção (fraude eleitoral), a impunidade (Ciudad Juárez), a mentira (sistema bancário e financeiro), etc., (...) o povo tem todo o direito de desconhecer esse governo e de buscar seus próprios sistemas de justiça.
Sem aludir às utopias, mas ao socialismo-feminista “cientifico” e em particular ao lesbo-feminismo, a humanidade tem seus dias contados para uma transformação radical. Não apenas porque o planeta já não pode mais resistir ao aquecimento que as multinacionais geraram com sua contaminação, nem a pode terra suportar a devastação e depredação que essas empresas produziram, mas também pelo extermínio e anquilação massivos de grandes setores da humanidade através de enfermidades, do álcool, das drogas, do sexo compulsivo (MDS), dos programas televisivos de alienação mental, dos transgênicos, da manipulação genética, dos alimentos chatarra[1], etc., impulsionados pelos governos capitalistas.
Hoje, o movimento lésbico-feminista assim como ao movimento da Dissidência sexo-genérica, MDG, nos cabe participar da reconstrução do planeta e da sociedade humana destruída pelo sistema heterosexista-patriarcal / capital-imperialista do qual são hoje pontuais o MDS e a cultura gay direitista, até a construção de uma sociedade totalmente livre da opressão social já que “ninguém será livre até que todas e todos sejamos livres”.
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LESBIANAS FEMINISTAS RE-EVOLUCIONARIAS.
Yan María Yaoyólotl C.
lesbofeminismoyan@yahoo.com.mx
http://es.geocities.com/lesbofeminismoyan/lesbofeminismoyan.html
Yan@mujerarte.org
[1] Alimentos chatarra = junkie food





O único modo em que iremos alterar a presente situação é por uma larga organização grassroots com o tanto de pessoas com as quais podemos nos conectar, isto é, construindo um movimento. É claro que precisamos trabalhar com pessoas heterossexuais de cor que superaram a noção de que heterossexualidade é a única expressão de desejo normal e aceitável. Mas precisamos também trabalhar com pessoas e em contextos em que muitos não se aventuraram ainda -- com aqueles que não estão totalmente convencidos que nós, como eles, merecemos e estamos comprometidos para lutar por nossa liberdade. Mais importante, nós precisamos definir nossas prioridades para que nosso trabalho político conecte com o mais vulnerável da sociedade, que não são necessariamente profissionais negros gays e lésbica com educação superior. Se nosso trabalho e estratégias não confrotarem o ataque vicioso contra mulheres pobres e suas crianças, imigrantes que nesta era acabam sendo quase totalmente pessoas de cor, nossas irmãs e irmãos encarcerados, aqueles que são sem-teto, famintos e em desespero, especialmente nossa juventude e nossos idosos, então não estamos fazendo o trabalho. Comprometimento para a erradicação da opressão across the board, não apenas os assuntos que nos afetam diretamente, é um comprometimento ético como político também.

Barbara Smith, Black Nations/Queer Nations Conference, March 1995