sexta-feira, 17 de outubro de 2008



Libertação Gay e Feminismo Lésbico


"A opressão homossexual e a opressão das mulheres eram ambas vistas como resultado da imposição do que eram chamados de ‘papéis sexuais’. Ativistas políticos da esquerda nesse período eram profundamente construtores sociais em sua aproximação. Deste modo, ambos libertadores gays e feministas viam papéis sexuais, o que provavelmente são chamados agora de ‘papéis de gênero’, como sendo politicamente construídos para assegurar a dominância masculina. Mulheres foram relegadas ao papel sexual feminino da esfera privada, criando e sendo preocupadas com o embelezamento do corpo a fim de ser um apropriado objeto sexual. Lésbicas foram perseguidas por elas desafiarem o papel sexual da fêmea de passividade sexual e a servidão aos homens. Homens gays foram perseguidos por eles desafiarem o papel sexual do macho, que, assim como exige comportamento masculino, foi fundado na heterossexualidade e no intercurso sexual com mulheres.

No contexto de uma polític a queer corrente, que celebra aqueles que desempenham precisamente estes papéis na forma de butch/femme, transgenerismo e sadomasoquismo como a vanguarda transgressiva da revolução, é útil entender como uma libertação gay fortemente influenciada pelo feminismo os rejeitou completamente. A opressão dos homens gays foi vista como um reflexo da opressão das mulheres, então ‘papéis sexuais’ era um problema para homens gays também. Um gay liberacionista dos Estados Unidos expressou isso deste modo:

Sexismo também é refletido nos papéis que homossexuais têm copiado da sociedade heterossexual. Os rótulos podem variar, mas é a mesma situação desigual, contanto que os papéis estejam rigidamente definidos, contanto que uma pessoa exerça poder sobre outra. Para héteros é macho-fêmea, senhor/senhora. Para gays é butch/femme, ativo-passivo. E o extremo, em cada caso, é sadista-masoquista. Seres humanos são objetificados, tratados como propriedade, como se uma pessoa pudesse possuir outra. (Diaman 1992: 263)

Um ativista da libertação gay do Reino Unido escreveu: ‘Nós temos sido forçados a desempenhar papéis baseados na sociedade heterossexual, butch e femme, “casamentos” nucleares que continuam dentro do relacionamento a mesma opressão que a sociedade exterior força nas suas mulheres. (Walter 1980: 59).
Um outro escreveu: ‘Desempenhar papéis em uma sociedade que demanda definições de gênero, interpretação de papéis sexuais, masculino versus feminino – o que nós podemos fazer, aqueles quem a sociedade rejeita e condena como metade-homens? Muito frequentemente nós reagimos representando exageradamente’ (p. 87).

Nos anos da libertação gay, nenhum argumento foi feito que interpretação de papéis fosse uma experiência ‘autêntica’ e exclusivamente lésbica ou gay, como aconteceu nos anos 80 e 90 (Davis e Kennedy 1991). Não existia vergonha em reconhecer que gays estavam envolvidos em mimetizar a sociedade hétero quando eles embarcaram em desempenhar papéis. Gays eram entendidos como construídos pelas regras da sociedade heterossexual também. Carl Wittman da Libertação Gay dos Estados Unidos declara:

Nós somos crianças da sociedade heterossexual. Nós ainda pensamos hétero; isso é parte da nossa opressão. Um dos piores de todos os conceitos héteros é a desigualdade... homem/mulher, em cima/em baixo, casado/não casado, heterossexual/homossexual, chefe/trabalhador, branco/negro, e rico/pobre....Por muito tempo nós mimetizemos estes papéis para nos proteger – um mecanismo de sobrevivência. Agora nós estamos nos tornando livres o suficiente para largar os papéis que selecionamos provenientes de instituições que tem nos aprisionado. (Wittman 1992: 333)

Um grupo de mulheres que formou parte da libertação gay nos EUA, o Partido Gay Revolucionário da Convenção de Mulheres, rejeitou firmemente a idéia de papéis sexuais para lésbicas, por isto não conter vantagens para elas.

Apesar de nenhuma de nós jamais ter sido educada em conduta de relações de igualdade sem papéis, lesbianas podem chegar mais perto desta realização que outros, porque nenhuma das instruções sexistas de representações de papéis que todo o mundo recebe ajuda a fazer seus relacionamentos funcionarem. Desempenhar papéis as leva para lugar nenhum, pois a “butch” não recebe nenhuma das recompensas sex uais, sociais e econômicas do macho enquanto a “fem” não tem um homem que traga para casa o salário de um homem ou para protegê-la do ataque de outros homens. (Gay Revolutionary Party Women’s Caucus 1992: 180)

Tais sentimentos, proveniente daqueles que teriam visto a si mesmos na época como a vanguarda da política gay, encontram-se em contraste total com a postura a respeito da interpretação de papéis lésbica que se desenvolveu mais tarde em algumas áreas da comunidade lesbiana. No fim dos anos 80 e anos 90 escritoras lésbicas tal como Joan Nestle (1987) construíram elas mesmas consideráveis reputações celebrando e romantizando representações de papéis como a mais autêntica forma de lesbianismo. Considerando que na libertação gay a resposta para os papéis era ‘largar’ eles, nas décadas posteriores eles foram selecionados, polidos e redispostos para o propósito de excitação sexual (Munt 1998; Hallberstam 1998a; Newman 1995).

Uma outra corrente comum entre a libertação gay e a libertação das mulheres naquela época foi a recusa ao casamento e a família nuclear. Casamento era considerado por ambos a ser um contrato de exploraç ão e dominância masculina, que necessita precisamente de ‘papéis sexuais’ que eram vistos como tão opressivos. Tão fundamental era a oposição ao casamento que ela foi enfatizada por Jill Tweedie, uma influente colunista do Guardian, em um fragmento positivo a respeito da libertação gay: ‘Libertação Gay não demanda pelo direito de homossexuais de casar. Libertação Gay questiona o casamento’ (citado por Power 1995: 64).

Dois aspectos da teorização da libertação gay a distinguem dramaticamente das políticas queer. Um é a compreensão que a opressão de homens gays origina-se da opressão das mulheres. O outro é que muitas formas de comportamento gay masculino, que hoje são elogiadas nas políticas queer, são o resultado da opressão gay, e não pode ser destruída sem aniquilar a opressão das mulheres. Formas de comportamento que historicamente foram parte do comportamento de homens que fizeram sexo com homens, como caçada e efeminação, foram vistas por ativistas da GLF (Frente de Libertação Gay) como resultado da opressão, mais propriamente que inevitáveis ou formas autênticas de comportamento gay.

A excitação política original da libertação gay durou apenas poucos anos no Reino Unido e nos EUA. No Reino Unido alguns homens voltaram para práticas que eles tinham criticado quando a libertação gay estava em seu auge, tal como caçada (Shiers 1980). Agora que uma notória comunidade gay subsistiu como um mercado, novas atividades comerciais gays tornaram-se envolvidas na ex ploração de homens gays do mesmo modo que heterossexuais e negócios da máfia tinh am feito em tempos anteriores: nasceu o capitalismo gay. Masculinidade gay tornou-se a moda, cons iderando que a política da libertação gay tinha evitado a masculinidade como o comportamento da dominância masculina (Humphries 1985). Uma política de ativismo gay de direitos iguais começou a desenvolver-se, o que alguns liberacionistas gays viam como desradicalizando e minando o movimento por mudança social radical. Por que, então, a objeção radical da libertação gay não foi sustentada?"


trecho do livro Unpacking Queer Politics, de Sheila Jeffreys (2003).

Um comentário:

Barbara Maidel disse...

Por onde anda Patriarkill?