terça-feira, 8 de maio de 2007

Genitalização e Economia da Libido no Capital Monogâmico Patriarcal


A organização da sexualidade reflete as características básicas do pincípio de desempenho e sua organização social. Freud destaca o aspecto da centralização. É especialmente eficaz na ´unificação´ dos vários objetos dos instintos parciais num único objeto libidinal do sexo oposto e no estabelecimento da supremacia genital. Em ambos os casos, o processo unificador é repressivo - quer dizer, os instintos parciais não evoluem livremente para um estágio ´superior´ de gratificação que preserve seus objetivos, mas são isolados e reduzidos a funções subalternas. Esse processo realiza a dessexualização socialmente necessária do corpo: a libido passa a se concentrar numa única parte do corpo, deixando o resto livre para ser usado como instrumento de trabalho. A redução temporal da libido é suplementada, pois, pela sua redução espacial.

(...)

Por exemplo, as modificações e deflexões de energia instintiva necessárias à perpetuação da família patriarcal-monogâmica, ou a uma divisão hierárquica do trabalho, ou ao controle público da existência privada do individuo, são exemplos de mais-repressão concernente às instituições de um determinado tipo de realidade. Elas são somadas às restrições básicas [filogenéticas] dos instintos que marcam a evolução do homem do animal humano para o animal sapiens. O poder de restringir e orientar os impulsos instintivos, de transformar as necessidades biológicas em necessidades de desejos individuais, em vez de reduzir, aumentar a gratificação: a ´mediatização´ da natureza, a ruptura de sua compulsão, é a forma humana do princípio de prazer. Tais restrições dos instintos podem ter sido primeiro impostas pela carência e pela prolongada dependência do animal humano, mas tornaram-se depois um privilégio e uma distinção do homem, que o habilitaram a transformar a necessidade cega de satisfação de uma carência numa gratificação desejada.

(...)

Originalmente, o instinto do sexo não tem limitações extrínsecas, temporais e espaciais, ao seu sujeito e objeto: a sexualidade é, por natureza, polimorficamente perversa. A organização social do instinto sexual interdita como poerversões praticamente todas as manifestações que não servem ou preparam a função procriadora. Sem as mais severas restrições, neutralizariam a sublimação de que depende o desenvolvimento da cultura. Segundo Fenichel, "os esforços pré-genitais são objeto de sublimação" e a primazia genital é seu "pré requisito". A Freud deu o que pensar porque o tabu sobre as perversões é sustentado com uma tão extraordinária rigidez. E concluiu que ninguém pode esquecer que as perversões são não só e meramente detestáveis, mas também algo monstruoso e terrível - "como se exercessem uma influência sedutora; como se, no fundo, uma secreta inveja dos que as desfrutam tivesse que ser estrangulada". As perversões parecem fazer uma promesse de bonheur maior do que a da sexualidade "normal". Qual é a origem dessa promessa? Freud salientou o caráter "exclusivo" dos desvios da normalidade, sua rejeição do ato sexual de procriação. Assim as perversões expressam a rebelião contra a subjugação da sexualidade à ordem de procriação e contra as instituições que garantem essa ordem. A teoria psicanalítica vê nas práticas que excluem ou impedem a procriação uma oposição à continuidade da cadeia de reprodução e, por conseguinte, da dominação paterna - uma tentativa para impedir o "reaparecimento do pai". As perversões parecem rejeitar a escravização total do ego do prazer pelo ego da realidade. Proclamando a liberdade instintiva num mundo de repressão, caracterizam-se frequentemente por uma forte rejeição do sentimento de culpa que acompanha a repressão sexual.

(Herbert Marcuse, Eros e Civilização)

8 comentários:

karen disse...

Compreendo que a família seja uma repressão em favor do capital.

Agora, estampar a liberalização sexual como algo que deva necessariamente acontecer, não seria apenas substituir uma repressão por outra? Em lugar da família centralizada, como agente da repressão, teríamos agora um superego idealizado de lutas supostamente libertárias em favor de uma liberação a todo custo?

Acho que não lutar pela multipliscidade dos direitos, em tais casos, o direito do homossexual de se unir ao tradicional, é imperativo e mto repressor para mim!

Maria disse...

Sim, Karen. Absolutamente.
Onde as feministas da terceira onda falharam foram em achar que liberdade sexual é obrigatoriedade sexual. O que não é o caso.como o marcuse mesmo coloca...na destruição da ilusão, acabam destruindo o verdadeiro junto. O ato instrumental se torna um fim em si. E isso voce pode até ver nessa politicagem bem reacionaria que são os estudos queer. Valorizam tanto qualquer forma de não-apreensao aos valores atuais que virtualizam os "opositores", sem nem questionar o que esta sendo praticado. Como a elevação do BDSM a status de libertação sexual. Não tem nada de novo na hostilidade!
Mas, obviamente, apenas com o questionamento primordial daquilo que é socialmente tido, é que podemos a longo prazo questionar também nossas práticas normativas menores. Tudo tem um começo!!
:)

karen disse...

Não sei. Tenho mesmo me deparado com a questão de questionar minhas práticas normativas menores. Porém, estou ficando desacreditada desses questionamentos, porque caio em outras normas muito mais sutis e pouquíssimo faladas. !!!

Unknown disse...

não é pq somos contra a familia que somos conservadores.

E nem acho que o termo libertário seria o oposto correto.

A verdade é que a ideologia fascista e a liberal são farinha do mesmo saco.

Não achamos por exemplo que em oposição à familia monogamica, uma relação poligamica seria libertária, afinal quem se privilegia com esse discurso falacioso de amor livre são os anarco-sexista que querem pegar varias mulheres e ´comungá-las´ com os companheiros. Mesmo q falem q a guria poderia ser promiscua tb, sabemos que pros homens é bem mais fácil ser promiscuo com satisfação num mundo sexista.

karen disse...

ok. legal.

mas, será que dá pra pensar uma forma de sexualidade que fuja completamente do (bio)poder e, assim, dos controles? Mais do que isso, é possível que qualquer luta política se levante sem pretensões imperativas, que não pense em aniquilar diferenças (algumas, especialmente, as insuportáveis)?

Para mim, o exercício da política e de militancia comporta necessariamente um certo grau de fascismo (mas acho que essa não é a melhor palavra).

Digo isso, porque a militancia necessariamente indica a eliminacao de alguma coisa em favor da multiplicidade de outras, quando não, aponta direções pela quais, a cultura deve andar.

Quero dizer que acho que isso é legítimo. Mas o que me incomoda nas lutas políticas são estas interdições, estes não ditos, que só revelam o vínculo que o desejo (escamoteado) possui com o poder.

Meu caminho é pensar/fazer a política como uma sustentação de paradoxos, para que algum dia, a gente possa explodir essa lógica binária!

Acho que não dá pra fazer política sem estar permeada por vários paradoxos, acho que é impossível estar politicamente sem ser sustentada pelo capital em algum nível. Mesmo que seja neste da cadeira que voce comprou ou do seu computador, ou do seu desejo.

Esse bom mocismo da política, essa pureza que se busca, 'o perfil do libertário mais livre do que os mais livres', me incomoda.

Acho que os espaços libertários e políticos são os espaços mais moralizantes que já circulei, visto que nunca passei muito tempo numa igreja pra diferenciar. E aonde as interdições dos discursos são as mais amplas tb.

Além disso, apesar de militante e de acreditar que ela tem que existir, tenho ainda bastante reticências com respeito as leituras totalizantes da realidade, como por exemplo, 'capital monogâmico patriarcal', especialmente, no monogâmico da coisa. Afinal de contas, se a monogamia existir prá valer em um mosteiro, estou feliz.

É claro que existe os discursos normatizantes... mas ando mesmo pensando nessa dificuldade pos-moderna de nomear 'inimigos' por assim dizer. Gostaria muito de saber quem são os capitais do capital para poder matá-los. É claro que o 'capital', encarado dessa forma genérica está pulverizado do nosso cotidiano, mas...
quem é que são eles(as)?

Maria disse...

hmm
karen, isso nao é busca de pureza... nao. Na real só existe 1 coisa boa q vc pode fazer, ninguem nunca deixa ninguem estar la, o resto é lixo facilitador. Nao é absurdo exigir o necessario, verdadeiro... ta mais q na hora de parar de perder tempo.
Se a tua duvida é encontrar o bem, é facil. Só olha bastante pro mal...

alex1971 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
alex1971 disse...

Caras amigas

Temos que encarar que esta coisa de política gay é uma grande ameaça à sociedade. Se não fossem os métodos nazistas utilizados pelo lobby gay nos EUA, a homossexualidade nunca teria saído da CID-10 e do DSM-IV. Como escreveram Freud, Reich, Klein e outros, o homossexualismo enquanto comportamento dominante ou exclusivo é uma grave perturbação do psiquismo. Quando observamos que , nos grandes centros urbanos, 20% dos homens gays são HIV-positivos, quando aprendemos sobre a promiscuidade das saunas e locais gays em geral, fica óbvio que a homossexualidade jamis poderá aspirar seriamente à chancela de normalidade. Que os gays recebam certos direitos, como a união civil (sem direito a adoção) ainda é aceitável, qualquer coisa além disso não! Proteger os homossexuais da violência e da discriminação sim, mas passar a propagandear a 'normalidade' do comportamento gay me parece um crime!